O padre José Alceu Santana Albino, de 59 anos, é um missionário, no sentido literal da palavra. A maior parte dos seus 28 anos de sacerdócio foi exercida em missões, sendo a última delas em Angola, país africano onde permaneceu nos últimos cinco anos.
Natural de Santa Rosa do Sul, local de residência dos seus pais, o religioso recém chegou de Angola e nesta sexta-feira parte novamente. Está desfrutando de alguns dias de folga e em 24 de outubro assume sua nova função, no interior da Bahia.
Fazia tempo que padre Alceu não permanecia no Brasil. Antes de ir a África, estava pregando no Paraguai, e antes ainda havia passado pela Argentina. A partida para o continente africano aconteceu em 2015, e o retorno agora em setembro.
Segundo o padre, no município de Cuango encontrou diversas mazelas, como a falta de documentação de muitas pessoas, violência, corrupção e conflitos de terra. “Não há energia elétrica, água potável ou estrada asfaltada (…). Em relação a saúde, educação e saneamento básico, a situação é precária. As salas de aula são poucas, muitas delas são das igrejas”, escreveu em um artigo. Freiras brasileiras estão no país e são responsáveis por um dos raros sistemas de escolaridade que funcionam. Padre José Alceu continua descrevendo: “O analfabetismo é altíssimo, muitas doenças são devido à falta de higiene. Os ambientes são precários, com grande aglomeração de pessoas e vivendo em condições desumanas”. O fato da língua oficial de Angola também ser o português, não ajuda muito, pois nas aldeias os moradores se comunicam através de dialetos.
Como se não bastassem estas dificuldades, dois colegas religiosos morreram durante a missão, um indiano de acidente de carro e um brasileiro de malária.
Privilégio e muita fé
Diante de tanto sofrimento, é de se pensar que padre Alceu vivia triste e com vontade de regressar ao Brasil. Porém, não é verdade. Segundo ele, o povo angolano possui uma alegria natural, gosta da missa e ajudá-la a prepará-la, principalmente com cantos. “Missão é um privilégio, uma graça. Não fui para lá mudar ninguém, eu é que fui mudado. Peguei malária muitas vezes, mas não tinha como desanimar quando vinha uma criança me abraçar, um idoso com fome. Eu era a pessoa mais rica lá”, conta.
Alguns momentos de apuro foram enfrentados, como atravessar um rio de canoa e aparecer um crocodilo, e comer carne de macaco em uma aldeia. Tudo foi aprendizado e avanço, com a inauguração de salas de aula. “Educação é a saída”, enfatiza.
Sobre saudade do Brasil, o padre diz que não tinha por acreditar que tem que viver o momento. “A casa que me acolhe é a minha casa, a comida que me dão, é a minha comida. Na volta perguntaram pela minha mala, eu não tinha. Tudo que tenho estava em uma bolsa, o que se precisa é amar às pessoas”.
Depois de 13 anos fora do Brasil, tendo trabalhado na Argentina, Paraguai e Angola, padre Alceu retorna para um novo ciclo, uma missão no sertão baiano. No dia 12 de dezembro de 2015, o sulsantarrosense chegou em Angola (leste do país) e em 7 de setembro embarcou de volta. Foram 5 anos, 9 meses e 19 dias no continente africano. “A sensação é de ter cumprido cabalmente esta missão”, conclui.