“A gente se separou diversas vezes, ele ia me buscar, eu voltava na intenção dele mudar, mas ele nunca mudava, sempre piorava”, disse a mulher, que continua sendo agredida pelo homem
São João do Sul
Mãe, trabalhadora, dona de casa e sofrendo violência doméstica havia 19 anos. Uma moradora de São João do Sul, conviveu com a dor e o medo causados pela pessoa que deveria protegê-la e amá-la, seu próprio companheiro, até que há dois anos resolveu se separar. “Nesses 19 anos sempre teve agressões, a gente se separou diversas vezes, ele ia me buscar, eu voltava na intenção dele mudar, mas ele nunca mudava, sempre piorava”, recorda, exemplificando o ciclo de violência que quase sempre se repete nesses casos.
Além dela, as filhas mais velhas também foram agredidas, e por isso, o companheiro chegou a ser preso. No entanto, após pagar fiança, ele retornou e isso foi a gota d’água para a mulher, que conversou com a reportagem do Jornal Correio do Sul.
Este, no entanto, ainda não foi o final da história. O companheiro agressor ainda tentou invadir a casa onde ela estava com as filhas no final do último mês de fevereiro, gerando momentos de pânico. “Ele tentou invadir a minha casa e agredir a gente. Mas não conseguiu entrar onde estávamos. Eu fiquei com as duas pequenas na janela, não sabia se pulava ou pedia ajuda, já que ia deixar uma para trás”, recorda ela. A noite de terror se intensificou quando vizinhos ouviram os gritos e ajudaram, sendo feridos à faca pelo agressor. “Um deles ganhou uma facada nas costas, e na mulher, foi do lado esquerdo. Eles estão em casa, estão bem, mas em repouso”, conta.
As filhas da moradora de São João do Sul ficaram uma semana sem aulas, com medo das ações do agressor, enquanto ela continua trabalhando, com receio de que as agressões possam evoluir para algo pior. “Eu tenho medo, né? Tenho que ir sozinha, sem ninguém para acompanhar. A gente tem que se cuidar, porque ele pode voltar. Ele está solto”, declara a mulher.
Um boletim de ocorrência foi registrado pela vítima e uma medida protetiva foi solicitada contra o ex-companheiro.
A delegada responsável pela Delegacia de Proteção à Criança, Adolescente, Mulher e Idoso, a Dpcami de Araranguá, Eliane Chaves, aponta que casos como este, infelizmente, são comuns, e que é preciso quebrar o ciclo de violência e libertar estas mulheres. Isso, porém, é trabalho de toda a sociedade. “Tem que conversar dentro de casa, com seu filho ou filha, tem que ajudar olhando a situação da vizinha, orientando, apoiando e acolhendo. Essa mobilização tem que partir da própria sociedade. O que nós, como Polícia Civil, temos que fazer é melhorar nosso acolhimento e fazer com que a rede de acolhimento funcione. Enquanto não trabalhar em rede, fica difícil”, diz.
A delegada também lembra que casos assim podem ser denunciados de forma anônima, já que muitas mulheres temem reações ainda mais violentas de seus agressores. “Nós temos o WhatsApp da Polícia Civil, o 9 8844 0011, por onde você pode mandar foto, vídeo, todo o histórico, a denúncia vai para uma central em Florianópolis, e aí eles vão direcionar para a área, e a pessoa não precisa aparecer”, sugere. Outro canal de denúncia é o 180.
Em casos de violência, o ditado de que ‘em briga de marido e mulher, não se mete a colher’, deve ser substituído por empatia, proteção e acolhimento.