Especialistas alertam: imagens que parecem inofensivas podem virar moeda de troca em redes de exploração infantil
Uma foto singela de uma mãe amamentando o bebê, um clique descontraído de uma criança trocando de fralda em um parque público, ou uma comemoração de um gol, sem camisa — para muitos pais, são apenas registros afetivos. No entanto, especialistas em segurança digital e autoridades de combate ao crime alertam: mesmo estas imagens podem ser coletadas e exploradas em mercados clandestinos por pedófilos.
Videos “packs”: o valor oculto das imagens
Segundo levantamento da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, pacotes de imagens íntimas de crianças, muitas vezes cedidas por familiares ou adolescentes, chegam a ser vendidos por cerca de R$ 50 cada nas redes sociais. Em um contexto clandestino, esse valor pode ser multiplicado, uma vez que criminosos repassam o material em fóruns restritos, agregando layers de lucro conforme aumenta o número de intermediários.
Estima-se, em fontes internacionais e estudos antigos, que a pornografia infantil movimenta centenas de milhões, até bilhões de dólares, por ano. Isso significa que uma imagem aparentemente inocente — como um bebê sendo trocado ou amamentado — pode, literalmente, se tornar parte de um ciclo lucrativo de exploração.
Impacto real: estatísticas alarmantes
Em 2023, a SaferNet Brasil recebeu 71.867 denúncias únicas de exploração sexual infantil na internet — um aumento de 77% em relação a 2022.
Desde 2006, foram mais de 100 mil denúncias desse tipo de conteúdo.
Quanto mais cedo a criança acessa a internet sem supervisão — já era o caso de 24% das crianças entre 9 e 17 anos, que começaram a navegar antes dos 6 anos — maior o risco de exposição e exploração.
“O problema não está na intenção dos pais…”
A psicóloga infantil Lucila Almeida destaca que o risco vem, sobretudo, da ação de terceiros mal-intencionados:
“Uma foto aparentemente inocente, como uma amamentação ou troca de fralda, pode ser reinterpretada e usada de forma predatória. A falha está na percepção de que uma imagem desse tipo está isenta de risco.”
Alerta das autoridades
A Polícia Federal e a Polícia Civil enfatizam a necessidade de atenção e denúncia imediata:
“Muitos pais acham que não há problema em expor imagens ‘inocentes’. Mas é justamente essa naturalidade que atrai crimes. Cada clique pode ser monetizado e virar parte de uma rede criminosa”.
Denúncias podem ser feitas anonimamente via SaferNet Brasil ou diretamente às autoridades competentes.
Como proteger seu filho: orientações práticas
Evite fotos íntimas ou sugestivas, mesmo em situações como amamentação ou troca de fralda.
Mantenha contas em redes sociais fechadas, compartilhando apenas com pessoas de confiança.
Evite o uso de hashtags que chamem atenção, como #baby, #fofura ou #menina, que facilitam buscas maliciosas.
Adicione marcas d’água — nome da família ou do fotógrafo — para dificultar reuso não autorizado.
Faça buscas reversas com frequência, usando Google Imagens ou TinEye para detectar uso indevido.
Converse com seu filho de maneira apropriada à idade sobre privacidade digital e os riscos de expor imagens.
O que pode parecer inofensivo pode ser valioso para criminosos
Em tempos onde a internet se mistura à vida cotidiana, a linha entre memórias familiares e material exploratório é tênue — e perigosa. Uma foto aparentemente banal pode representar não apenas invasão de privacidade, mas também impulsionar um negócio ilícito multimilionário. O alerta está dado: proteger as imagens dos filhos é proteger sua dignidade e segurança.