“Estou perdendo a memória!”, disse-me, preocupada, minha irmã Elza outro dia. Ela contou que procurava um chinelo para calçar, mas só encontrava um pé. Depois de muito andar pela casa, a filha a chamou: “Mãe, o outro pé está na sua mão!”.
Quantas vezes já fizemos algo parecido? Situações que, de tão inusitadas, até Deus duvidaria! Eu mesma poderia passar o dia relatando minhas gafes. Quem nunca procurou pela caneta na orelha ou pelos óculos na cabeça?
Isso é preocupante? Pode ser. Mas nem sempre significa sinal de demência. Muitas vezes é apenas falta de foco — a velha história do “Aqui & Agora”.
Outro dia mesmo, após preparar meu suco matinal, procurei a peça da centrífuga para lavar. Sempre a coloco no mesmo lugar, mas dessa vez não encontrava. Ninguém mais usa o aparelho. Quando abri o compartimento das fibras, lá estava a peça.
Não me pergunte como ou quando a coloquei ali! Naquele momento, minha mente ainda estava no episódio do show de mistério que assisti durante os exercícios. Enquanto eu tentava descobrir quem era o vilão, acabei guardando o objeto no lugar errado.
No início da minha carreira como gerente no BK, em 2005, participei de um treinamento chamado “Be Here Now” (Esteja aqui agora). O instrutor dizia que, quando a mente viaja, a chance de cometer erros ou perder oportunidades aumenta muito.
E não é só comigo ou com a minha irmã. Tem gente que coloca a chave do carro na geladeira. Outros jogam banana no lixo e ficam com a casca na mão. E você, o que já fez errado por pura distração?
Por muito tempo, eu acreditava que ser multitarefas era uma virtude. Achava que terminar várias coisas ao mesmo tempo era sinônimo de produtividade. Mas essa ideia mudou quando comecei a estudar sobre Mindfulness (Atenção Plena).
Uma pesquisa da Universidade de Stanford, nos EUA, me fez repensar minhas supostas “habilidades de mulher-maravilha”. O estudo mostra que focar em várias tarefas ao mesmo tempo pode prejudicar o controle cognitivo.

A falta de atenção ao momento presente nos leva a não perceber o óbvio ou a colocar coisas no lugar errado. Isso, isoladamente, é apenas um lapso de memória — perfeitamente normal.
No entanto, com o tempo, o hábito de fazer mil coisas de uma vez pode afetar a saúde mental, comprometendo a atenção, a memória, a linguagem, a percepção, a criatividade e até o raciocínio.
Portanto, lembre-se: quando quiser “matar dois coelhos com uma cajadada só”, o tiro pode sair pela culatra.
E, na dúvida, procure orientação médica.