Abrir, Sentir, Fechar — e Viver
Seja sincero: quantas vezes você guardou algo em um lugar “seguro” e depois não conseguiu lembrar onde era?
Eu faço isso com frequência.
Meu marido, então, nem se fala — compra presentes, esconde para me surpreender e… esquece! Já encontrei alguns por acaso enquanto organizava a casa.
Outro dia, minhas filhas pediram para ver um velho álbum de fotografias. Eu sabia que estava guardado em alguma caixa de recordações — mas em qual? Prometo que não escondi.

Era meu dia de folga e decidi aproveitar para procurar. Abri algumas caixas… e, com elas, um turbilhão de lembranças. Cada uma trazia cheiros, sons e emoções de um tempo que parecia adormecido.
Caixa 2004: lembranças da gravidez e as lembrancinhas trazidas do hospital — os primeiros sapatinhos, vestidos e o pijaminha do primeiro Natal.
Caixa 2005: convites, lembrancinhas, livros com anotações do primeiro aniversário.
Lágrimas. Sorrisos. Gargalhadas.
Passei mais tempo do que devia abrindo e fechando caixas que me transportavam no tempo e me faziam sentir uma imensa gratidão por todos os anos vividos ao lado do meu marido, vendo nossos filhos crescerem.
Mas nem todas as caixas que abrimos trazem alegria.
Há quem guarde lembranças amargas — dores, frustrações, perdas — e gaste o tempo que não tem revirando o passado, cutucando feridas, revivendo tudo outra vez como se fosse ontem.
Que caixas você costuma abrir?
Uma amiga da minha adolescência me contou sobre as dela.
Não conheço ninguém que tenha enfrentado tantas dores: dois casamentos fracassados, a trágica morte de um filho ainda jovem, e da mesma forma, a perda prematura de um irmão, o divórcio dos pais, o acidente que levou o pai e, mais tarde, o câncer que levou a mãe. É muito? Tem mais.
Mesmo assim, ela é um exemplo de superação. Esbanja beleza, carisma e otimismo. Ninguém imaginaria que já sofreu tanto — e, ainda assim, sente prazer em viver.
Assim como eu, ela diz não às “pílulas mágicas” para a saúde mental.
“Eu abro uma caixa por vez”, disse-me, explicando seu segredo.
Não deve ser fácil encarar o que vem de dentro de cada caixa — memórias, cheiros, vozes. Mas quando termina, ela fecha, devolve ao lugar e segue em frente.
Disciplina? Talvez.
Sabedoria? Certamente.
Assim como eu, que procurando um álbum encontrei outras doces lembranças, também podemos nos deparar com dores e saudades. Às vezes, não achamos o que buscamos; em vez disso, encontramos o que nem sabíamos que precisávamos reencontrar.
Então, quando o passado tentar impedir você de viver o presente em toda a sua intensidade, feche a caixa.
As lembranças pertencem a você — e é você quem decide quando abri-las.










