De pés descalços, eu caminhava até a Praia da Cal ou até a Praia da Guarita com minha mãe, tia e primos. Ah, como eu amava percorrer aquele caminho na minha amada Torres/RS, a praia que me viu menina! Na minha inocência de criança, eu não sabia se ir para a direita ou para a esquerda fazia alguma diferença. Eu queria simplesmente trilhar o caminho certo.

Ao crescer, entendi que, na vida, não importa quem está certo ou quem tem razão, mas o quanto nos importamos uns com os outros. Também aprendi que é importante opinar, desde que se respeite a opinião do outro. “Expor” não é o mesmo que “impor”.
Em tempos de Natal e de final de ano, quando o amor e a harmonia deveriam ser os principais ingredientes para uma receita de momentos felizes, há quem invente motivos para deturpar a paz e a tranquilidade. E ainda há quem diga que isso é querer ver o mundo melhor.
Mas o que seria, afinal, um mundo melhor?
Estamos avançando para mais uma década, e o que ouvi há 30 anos sobre saúde mental parece piorar, em vez de melhorar. Talvez seja apenas a minha percepção. Talvez eu precise olhar por outro ângulo.
Ainda na infância, lembro-me de ouvir constantemente sobre as tradições de final de ano e sobre a comida certa para se ter um ano mais promissor. Acho que era superstição.
“Coma porco, porque é um animal que fuça para frente”, diziam.
“Não coma galinha, porque esta cisca para trás.”
Vou confessar uma coisa: eu costumava contrariar essas sugestões. No meu ponto de vista, o porco até fuça para frente, mas muitas vezes é a sujeira que ele encontra. Já a galinha cisca para trás as impurezas e seleciona o que há de melhor à sua frente. Eu escolhi deixar o que está ruim para trás e seguir adiante na busca constante pelo melhor.
Diziam também que branco era paz, amarelo dinheiro, verde esperança, rosa amor e vermelho paixão. O que mudou, então? Se queremos um mundo melhor, não seria mais sensato simplificar em vez de complicar? Espalhar amor em vez de discórdia?
Com passos rápidos, eu caminhava em direção à praia, em Torres/RS, no dia 31 de dezembro de 1999. Pensava que virar o século na minha amada praia seria mais significativo do que apenas virar o ano. Que engano! Era apenas uma mudança no calendário.
Na academia, o slogan era “Xô Stress”. No coração e na mente, a meta era estar em forma. Planos, projetos e expectativas. A virada do século prometia e nos permitia sonhar.
Diga-me: o que mudou nesses 25 anos?
O que você fez de bom que contribuiu para um mundo melhor?
Quais metas você estabelece para os próximos 25?
Pé por pé, sigo adiante. Um passo de cada vez, para não tropeçar, como quem aprende a confiar no próprio caminho. Se eu errar a direção, que eu tenha a humildade de reconhecer, aprender e ajustar a rota. Se o chão ferir, que eu lembre que pés descalços também criam resistência.
Que eu saiba deixar para trás o que pesa, escolher com cuidado o que levo comigo e seguir mais leve. E, se eu cair, que eu me permita levantar, sacudir a poeira e erguer a cabeça. Porque o mundo melhor que tanto desejamos não começa no calendário, nem nas cores da roupa ou nos rituais de fim de ano — ele começa no jeito como caminhamos e na forma como cuidamos uns dos outros.









