Tradição quase obrigatória nas confraternizações de fim de ano, o amigo secreto vem passando por uma verdadeira reinvenção. Para driblar orçamentos mais apertados, evitar constrangimentos na hora do presente e tornar o momento mais leve e divertido, famílias, grupos de amigos e ambientes de trabalho têm apostado em novos formatos da brincadeira, que valorizam criatividade, afeto e até solidariedade.
Embora existam registros de trocas de presentes anônimas em diferentes culturas, o amigo secreto, como é conhecido hoje, consolidou-se ao longo do século 20, associado às festas natalinas e à ideia de confraternização coletiva com um único presente. No Brasil, a prática ganhou força em empresas, escolas, igrejas e famílias, assumindo nomes variados como amigo oculto, amigo X e amigo da onça.
Consumo consciente e adaptação ao bolso
Tradicionalmente ligado ao aquecimento do comércio em dezembro, o amigo secreto continua movimentando o varejo, especialmente nos setores de perfumes, cosméticos, papelaria, acessórios e experiências. No entanto, diante da inflação e da redução do poder de compra, cresce a adesão a versões que priorizam presentes úteis, artesanais ou simbólicos, com limites de gasto mais baixos.
“Antes a gente ficava ansioso pelo valor do presente, agora o foco é na brincadeira e na surpresa”, comenta Carla Menezes, auxiliar administrativa que participa de um amigo secreto de baixo custo no trabalho. “Combinamos um teto pequeno e vale muito mais a criatividade.”
Formatos criativos em alta
Entre as variações mais populares está o “amigo ladrão”, em que todos levam um presente neutro e, por sorteio, escolhem abrir um pacote novo ou “roubar” o de outro participante, respeitando um número limitado de roubos. O formato costuma render risadas e disputas animadas.
Outra versão bastante comum é o “amigo da onça”, no qual o combinado é presentear com algo engraçado, inusitado ou até propositalmente inútil. “O objetivo é rir, não agradar”, brinca Eduardo Pacheco, que participa anualmente da modalidade com os amigos de infância.
Também ganham espaço os amigos secretos temáticos, com escolhas restritas a livros, itens de autocuidado, papelaria, produtos sustentáveis ou até uma única cor. Há ainda propostas mais afetivas, como o “amigo marmita”, em que cada participante prepara um prato ou doce, e o “amigo artista”, com presentes feitos à mão, playlists personalizadas ou cartas.
Solidariedade e afeto como foco
Além do aspecto lúdico, o amigo secreto tem sido utilizado como ferramenta de solidariedade. Em algumas empresas e escolas, o grupo opta por trocar apenas lembranças simbólicas entre si e destinar o valor dos presentes a campanhas de doação, como brinquedos, cestas básicas ou itens de higiene.
“Decidimos ajudar uma instituição da cidade e manter só cartões entre nós”, conta Mariana Lopes, professora da rede pública. “Foi um Natal mais simples, mas muito mais significativo.”
Mesmo quando não há doação externa, cresce o interesse por versões em que o presente principal é a palavra. Cartas, bilhetes e depoimentos lidos em voz alta antes da revelação têm resgatado um sentido mais emocional da confraternização. Em tempos de excesso de telas, esses momentos se transformam em espaços de escuta, acolhimento e balanço do ano.
Organização faz a diferença
Para quem deseja inovar, especialistas recomendam definir previamente valor máximo, formato e regras da brincadeira, evitando conflitos. Plataformas digitais de sorteio ajudam a manter o sigilo, e listas discretas de preferências pessoais reduzem o risco de presentes esquecidos no fundo do armário.
Independentemente do modelo escolhido, a principal orientação é manter o foco na experiência coletiva, e não na obrigação de consumir. Ao reinventar o amigo secreto, grupos conseguem equilibrar tradição, economia e afeto, preservando o espírito de celebração que marca o Natal.










