Em 2020, dois jovens irmãos moradores da Vila Bitencourt, em Santa Rosa do Sul. Lucas, de 20 anos, e Luan Valentim Américo, 23, perderam, em menos de três meses, o pai e a mãe de forma muito parecida
Santa Rosa do Sul
Dois mil e vinte foi um ano difícil, é o que se houve a todo momento. E foi mesmo, devido aos óbitos, tensões e prejuízos à economia mundial provocados pela pandemia do novo coronavírus.
Para algumas pessoas, porém, o ano passado foi mais do que difícil, foi de perdas tão intensas que é impossível avaliar o tamanho da dor. Foi assim para dois jovens irmãos moradores da Vila Bitencourt, em Santa Rosa do Sul. Lucas, de 20 anos, e Luan Valentim Américo, 23, perderam, em menos de três meses, o pai e a mãe de forma muito parecida.
O Correio do Sul divulgou estas notícias na época, mas somente agora, um ano depois, um dos rapazes fala sobre o assunto.
O réveillon de 2019 para 2020, quando o novo vírus ainda não havia chegado ao Brasil, foi comemorado com festa pelos jovens. No entanto, já no dia 2 de janeiro as esperanças de um 2020 cheio de alegria foram abaladas. Os irmãos foram comunicados que o pai deles, Donato Américo, de 59 anos, tinha sofrido um aneurisma cerebral e estava no hospital. Donato era separado da mãe de seus filhos e morava com os próprios pais em Jacinto Machado. Luan e Lucas se deslocaram para lá, mas não puderam ver o pai, que estava sendo transferido para o Hospital Regional de Araranguá, de onde também foi logo encaminhado para o São José de Criciúma. Os filhos foram para lá e aguardaram a ambulância, no entanto, o pai não tinha mais nenhuma reação. “Ele não viu a gente e não pudemos dizer nada para ele. Acredito que quando saiu do Regional ele já estava com morte cerebral”, conta Luan.
Enquanto aguardavam as avaliações médicas, os jovens tiveram a companhia da mãe. Luan lembra que chovia muito naquele dia e que mandou mensagem à mãe dizendo que ela não precisaria sair de Santa Rosa e ir até Criciúma, pois tios e primos estavam com eles no hospital. “Mas ela foi, chegou lá toda molhada, pra ficar com a gente”.
Quando a morte cerebral de Donato foi confirmada, a equipe médica falou à família sobre doação de órgãos, e os filhos concordaram. “Da nossa dor, podíamos fazer algo pelos outros”, diz Luan. Aquela doação foi a primeira do ano em Santa Catarina.
Mais uma tragédia
A morte repentina do pai foi sendo superada com o amor da mãe. Solange Rodrigues Valentim de 47 anos era o esteio dos filhos, a parceira de todas as horas. Os três moravam juntos e eram bastante unidos. “Antes de sair de casa, a gente fazia o sinal da cruz na testa dela e ela na nossa e dizíamos ‘eu te amo'”, descreve Luan.
Foi o que fizeram no feriado de Carnaval, ao pegar a estrada para Laguna com amigos. Os jovens estavam lá quando foram avisados que Solange tinha passado muito mal em casa, com uma terrível dor de cabeça e vômito. Levada ao hospital Dom Joaquim de Sombrio, foi em seguida transferida para o Regional de Araranguá e de lá para o São José. Vindo de Laguna, Luan já ficou no hospital à espera da mãe. “Parecia mentira que eu estava de novo na mesma rampa daquele hospital esperando uma ambulância”. Mas desta vez, quando o veículo trazendo Solange chegou, o sentimento do rapaz foi de esperança. Enquanto o pai estava inconsciente, a mãe falou com ele, o abraçou e perguntou por Lucas. “Nossa, aquilo me deu tranquilidade, beijei muito ela e achei que tudo daria certo”, explica. Mas não deu. Solange teve um aneurisma hemorrágico, passou por três cirurgias, permaneceu mais de 20 dias internada e faleceu. Enquanto ainda podia falar, disse ao filho que não queria ficar vegetando numa cama e que gostaria de doar seus órgãos. Os filhos respeitaram a sua vontade, dessa vez, com maior relutância. Segundo Luan, o irmão mais novo se agarrava à esperança de um milagre que salvasse a mãe. Por fim, se conformou com a situação e os órgãos de Solange foram captados depois de declarada sua morte cerebral.
Solange estava internada quando teve início o isolamento provocado pelo coronavírus, em março, e os filhos ficaram alguns dias sem visitá-la. Quando ficou claro que o estado dela era extremamente grave, a equipe médica, que menos de três meses antes tinha acompanhado o drama dos irmãos com o pai, permitiu que eles entrassem para se despedir da mãe. “A mãe esteve na UTI duas vezes, foram mais de 12 dias, e tenho quase certeza de que na primeira vez ela ficou no mesmo leito do pai”, declara Luan.
Os irmãos continuaram morando na mesma casa, cercados pela família, que foi o maior consolo. A avó mora ao lado e ‘toma conta’ dos dois, assim como tias e tios próximos. Os amigos também foram fundamentais para enfrentar tanta dor.
Luan mantém no WhatsApp as conversas com a mãe, áudios em que pode matar a saudade da voz dela, somente o Facebook de Solange, cheio de fotos dos três, não tem coragem de olhar. “Quando ouço alguém dizendo que 2020 foi um ano ruim eu penso: imagina para nós. Mas o jeito é seguir em frente, sabendo que no meio de tanta tristeza ajudamos outras pessoas. Um pedacinho do pai e da mãe estão por aí, fazendo alguém feliz”, finaliza.
Muito triste,tbm perdi meu pai dia 03/10/2020, vítima de AVC,tudo aconteceu em menos de 24 h,ele tava no Ceará tentando se aposentar,meu coração dói ao lembrar dele.