Ainda cercado de dúvidas e contradições, o caso que levou à condenação do humorista Cris Pereira a 18 anos e quatro meses de prisão por estupro de vulnerável continua repercutindo. A decisão, tomada na última quinta-feira (25) pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, ainda não teve os argumentos detalhados, já que o processo segue em sigilo.
Antes disso, Pereira havia sido absolvido em primeira instância, em Estância Velha, quando o juiz Maurício da Rosa Ávila fez críticas severas aos laudos apresentados pela acusação e chegou a determinar investigação sobre a conduta de um psicólogo responsável por um dos pareceres. Para o magistrado, o profissional teria feito “conclusões peremptórias” a partir de simples entrevistas.
A sentença de Estância Velha
Na decisão de 30 de abril, Ávila afirmou que as provas eram insuficientes para uma condenação. Ele destacou contradições nos relatos da mãe da criança e questionou os laudos particulares, que, segundo ele, divergiam dos pareceres oficiais do Instituto-Geral de Perícias (IGP).
O juiz também refutou um atestado médico apresentado pela acusação, lembrando que a própria profissional responsável admitiu não ter elementos conclusivos sobre a ocorrência de abuso. Além disso, a médica declarou ser amiga pessoal do advogado da mãe da criança, o que levantou ainda mais dúvidas sobre a imparcialidade do documento.
O que disse o psicólogo
O psicólogo contratado pela mãe da menina afirmou que a narrativa apresentada pela criança seria complexa demais para uma invenção aos quatro anos de idade. Ele destacou sintomas compatíveis com transtorno de estresse pós-traumático e comportamento hiperssexualizado, chegando a apontar que a vítima reproduziu, em um brinquedo, o suposto ato abusivo.
Segundo ele, não havia indícios de falsa memória, concluindo que o abusador seria o réu. Essa avaliação, no entanto, foi colocada em xeque pelo juiz, que determinou investigação pelo Conselho Regional de Psicologia.
Argumentos da acusação e da defesa
O Ministério Público recorreu da absolvição e conseguiu reverter a decisão no Tribunal de Justiça, sustentando que havia provas suficientes para a condenação, entre elas o boletim de ocorrência, laudos psicológicos, atestados médicos e os relatos da vítima.
Já a defesa de Cris Pereira insiste que o humorista é vítima de uma armação. Ele apontou contradições nos vídeos gravados pela mãe da criança, chegando a citar uma gravação em que a menina teria dito que mentiu.
Desdobramentos
Enquanto a defesa promete recorrer, uma sindicância sobre a atuação do psicólogo tramita em sigilo no Conselho Regional de Psicologia. Paralelamente, há uma ação cível em andamento relacionada ao caso, também sob segredo de justiça, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
O processo criminal que culminou na condenação segue sem os fundamentos divulgados pelo Tribunal, o que mantém abertas as discussões e controvérsias em torno de um dos casos mais delicados e polêmicos do estado nos últimos anos.