A jovem Damaris Vitória Kremer da Rosa, de 26 anos, morreu vítima de complicações de um câncer no colo do útero, dois meses após ser absolvida em julgamento pelo Tribunal do Júri no Rio Grande do Sul. Ela havia cumprido seis anos de prisão preventiva, acusada injustamente de envolvimento em homicídio ocorrido em 2018 em Salto do Jacuí (RS). Ela foi condenada em 2019.
Segundo o empresário Allen Silva (foto), que manteve breve relacionamento com Damaris após sua soltura, a jovem mantinha esperança na cura e buscava aproveitar a vida mesmo diante da doença. “Mesmo com dor, ela tentou viver muito. A gente viajava de moto sempre que podia e tinha planos de viajar para a Europa”, relatou Allen.
Damaris passou por penitenciárias em Sobradinho, Lajeado, Santa Maria e Rio Pardo. Apenas em março de 2025, a prisão foi convertida em domiciliar. A decisão se deu em razão do diagnóstico de câncer e do agravamento dos problemas de saúde da mulher.
No mesmo mês, foi determinada a instalação de monitoramento eletrônico, conforme ofício expedido. Em abril, a Justiça autorizou, a pedido da defesa, que Damaris permanecesse na casa da mãe, em Balneário Arroio do Silva (SC), com tornozeleira.
Damaris foi sepultada na segunda-feira (27) no Cemitério Municipal de Araranguá, cidade que marcou o encerramento de sua trajetória de vida. Amigos e familiares prestaram homenagens nas redes sociais, destacando sua inteligência, amor à literatura e dedicação aos estudos. Ela dominava inglês e italiano e tinha grande interesse por obras de autores clássicos, como Dostoiévski e Machado de Assis.
A absolvição ocorreu em agosto de 2025, após o Conselho de Sentença considerar insuficientes as provas contra ela. Durante o período de prisão, Damaris passou por diversas penitenciárias no RS e teve pedidos de revogação da prisão negados pela Justiça, mesmo com agravamento de sua condição de saúde. Somente em março de 2025 foi convertida em prisão domiciliar, com monitoramento eletrônico, para que pudesse receber tratamento oncológico adequado.
A Promotoria alegou que Damaris teria “ajustado o assassinato juntamente com os denunciados” e mantido “conduta dissimulada, um relacionamento com a vítima, de modo a fazê-la ir até Salto do Jacuí, local estipulado para a execução”.
De acordo com o Ministério Público, outras duas pessoas também participaram do crime: o namorado de Damaris na época, que teria efetuado o disparo fatal, e outro homem, que teria auxiliado na execução. O namorado foi condenado pelo júri e cumpre pena no Presídio Estadual de Venâncio Aires.
A defesa de Damaris afirmou que ela apenas confidenciou ao namorado ter sido estuprado pela vítima, e que ele teria cometido o crime em retaliação.
O caso de Damaris foi a julgamento apenas em agosto. O Conselho de Sentença absolveu a jovem das acusações de ter matado a vítima e ateado fogo no veículo com o corpo dentro, por negativa de autoria baseada na falta de provas.
O caso chamou atenção nacional pelo impacto da prisão preventiva prolongada em indivíduos com problemas de saúde, além de levantar debates sobre o sistema penal e o acesso à justiça. Autoridades do Tribunal de Justiça do RS reforçaram que todas as decisões foram baseadas nos autos e na legislação vigente, enquanto o Ministério Público informou que a soltura só ocorreu após comprovação do agravamento da doença de Damaris.
O sepultamento em Araranguá simboliza o retorno da jovem à sua terra natal e trouxe à comunidade local momentos de comoção, lembrando a importância de garantias jurídicas e do cuidado com a saúde durante o cumprimento de medidas judiciais.
Com informações G1










