A administradora Claudete Kremer, de Balneário Arroio do Silva (SC), ainda convive com a dor da perda da filha, Damaris Vitória Kremer da Rosa, de apenas 26 anos, que morreu em 26 de outubro de 2025 vítima de câncer de colo do útero, apenas dois meses após ter sido absolvida por unanimidade em um júri popular. A entrevista foi concedida ao jornalista Vinícius Rangel para o portal UOL.
Prisão e absolvição
A trajetória de Damaris começou a se definir em novembro de 2018, na cidade de Salto do Jacuí (RS), quando o jovem Daniel Gomes Soveral foi encontrado morto com o carro incendiado. A denúncia apontava que Damaris teria atraído a vítima até o local e colaborado com o delito. Mesmo negando participação desde o início, ela teve prisão preventiva decretada em agosto de 2019 e passou por diversas unidades prisionais no Rio Grande do Sul.
Em 13 de agosto de 2025, o júri popular de Cachoeira do Sul (RS) absolveu Damaris por unanimidade das acusações de homicídio qualificado e incêndio.
Doença e demora no tratamento
Segundo a mãe, Damaris começou a manifestar sintomas graves no fim de 2024 — dores fortes, sangramentos e perda de peso — dentro do presídio feminino de Rio Pardo (RS). Embora pedidos de conversão da prisão em domiciliar tenham sido feitos várias vezes, apenas em março de 2025, após o diagnóstico formal de neoplasia maligna do colo do útero, a Justiça permitiu que ela cumprisse prisão domiciliar em Balneário Arroio do Silva (SC), com uso de tornozeleira eletrônica.
Enquanto esteve presa, a mãe relata visitas marcadas por incertezas, longas viagens e mudanças repentinas de unidade: “Ela sentava no meu colo, pedia carinho, dizia que não aguentava mais”, contou Claudete.
A família fala
Em entrevista ao UOL, Claudete afirmou:
“Na verdade, o meu coração, a minha mente, ainda não se despediram dela. Me parece que ela vai entrar pela porta a qualquer momento.”
E acrescentou:
“Foi uma injustiça sem tamanho. O Estado falhou, os médicos falharam, a penitenciária falhou. Ela não precisava ter morrido. Ela foi abandonada.”
O namorado, Allen Silva relatou que pediu Damaris em casamento pouco antes da sedação final. Em publicação nas redes sociais, descreveu o momento: “No minuto da tua sedação,… te pedi um beijo e você retribuiu com o mesmo entusiasmo do primeiro.”
Consequências e perspectivas
A advogada da família, Rebeca Canabarro, afirmou em nota que “o caso revela a face mais dolorosa da morosidade da Justiça e a incapacidade do sistema prisional em garantir o mínimo direito à saúde”. A família pretende acionar o Estado do Rio Grande do Sul por danos morais e materiais.
Por sua vez, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul declarou que o processo “tramitou regularmente” e que a prisão preventiva foi mantida devido à “garantia da ordem pública”. Já o Ministério Público do Rio Grande do Sul afirmou que liberou a ré para tratamento de saúde assim que houve confirmação médica da patologia.
Reflexão
Para Claudete, a luta agora se tornou mais ampla:
“Nós iremos lutar por justiça. Não somente pela minha Damaris, mas por todas as Damaris que sofrem injustiças, como a minha sofreu.”
A história de Damaris é a de uma jovem que perdeu anos de vida, credibilidade e saúde — apenas para ver o sistema reconhecê-la inocente quando já era tarde demais.










