Mais de um século se passou, mas segundo seu Barduíno Manoel Maurício, o tempo passou sem que ele nem percebesse. No alto dos seus 101 anos, completados no último sábado, dia 11, lúcido e falante, o idoso simpático carrega nos olhos e na memória, histórias de um tempo passado que não volta mais e que muitos só conhecem dos livros.
Morador da Vila Conceição, em São João do Sul, ele é de uma família de pescadores e agricultores, e desde criança já estava envolvido nos cultivos de arroz, feijão e mandioca. Aos quatro anos já ia para a roça com o pai e aos 13 já tinha as suas cabeças de gado.

Nascido em Água Morna, seu Barduíno se mudou algumas vezes, mas nunca deixou São João do Sul. “Filhos eram 13, e netos são 18”, comenta ele, que hoje é cuidado pela filha mais nova. Ele recorda as idades de cada filho, inclusive dos sete que já faleceram, e já tem 22 netos e até tataranetos. “A bisneta trouxe aqui para me conhecer. Todos me amam, meus netos, os meus filhos, todos eles gostam de mim, me amam”, conta feliz.
Os filhos estão espalhados pelo Sul catarinense e Norte do Rio Grande do Sul, e são todos lembrados com carinho pelo idoso. Ele ainda foi casado quatro vezes, mas acabou ficando viúvo em todas as ocasiões. A última esposa faleceu há quase dois anos.
Na propriedade que seu Barduíno mantém na Vila Conceição, há plantações cultivadas pelos netos e por alguns arrendatários. Porém, mesmo com mais de um século de vida, o idoso ainda mexe com a terra em uma plantação pequena de feijão. “Ainda hoje mexi nele, tá ali na peneira. Plantei sozinho, com Deus comigo”, relata.
Ele diz que percebe a admiração de muita gente por ele ainda manejar uma enxada, e sobre isso diz que enquanto puder, vai continuar trabalhando. “O povo se admira de eu plantar, mas podendo a gente tem que trabalhar, se não entreva, aí o sangue sobe pra cabeça, a gente deita e não levanta mais”, comenta.
A rotina é de um típico homem da roça, levantando quando está escuro, tratando dos animais e trabalhando na roça. “Não tô mais deitando de dia, porque agora a noite tá muito grande e o dia pequeno, né?”, completa. À noite o sono vem cedo, já que a rotina continua no dia seguinte.
Alegre apesar das perdas, seu Barduíno é daqueles que levam a vida com coragem, sendo exemplo para muitos de que o segredo para viver bastante é nunca parar e olhar para frente.