A morte da estudante Isabelly Baldin, de 27 anos, aluna do curso de Medicina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu, causou comoção e indignação entre acadêmicos, servidores e a comunidade externa. O falecimento, ocorrido na segunda-feira (16), desencadeou protestos e reações nas redes sociais, além de reacender um debate urgente sobre o tratamento de pessoas com deficiência (PCDs) no ambiente universitário, especialmente autistas.
Isabelly era autista e, segundo colegas, vinha relatando perseguições, preconceito e descaso por parte de alguns professores e estudantes. Nas mensagens que trocou com o também estudante autista Diego Andrade, cadeirante e diagnosticado com TDAH, TAG e depressão, a jovem expressa desânimo, medo e cansaço diante das dificuldades enfrentadas no curso. As conversas mostram que ambos buscavam apoio mútuo diante das constantes negativas da instituição em garantir adaptações previstas por lei, como o uso de protetores auditivos durante avaliações.
Protesto por justiça e inclusão
Na quarta-feira (18), data em que se celebra o Dia Nacional do Orgulho Autista, estudantes da UNILA organizaram um ato no campus Jardim Universitário, em memória de Isabelly. A manifestação reuniu colegas da vítima, acadêmicos PCDs e apoiadores que denunciaram omissões institucionais e exigiram justiça.
Cartazes como “Chega de capacitismo na UNILA” e “Ninguém merece sofrer sozinho” evidenciaram a dor coletiva e a cobrança por mudanças estruturais. “Ela gritou, e ninguém ouviu. Ela foi levada ao limite”, afirmou a estudante Lee Matievicz, que também é autista. “Nossa dor precisa ser levada a sério. Não queremos guerra com a universidade, queremos escuta e respeito.”
Posicionamento da universidade
Em nota oficial, a UNILA declarou profundo pesar pela morte da aluna e refutou as acusações feitas nas redes sociais. A instituição afirmou que prestava acompanhamento à estudante desde seu ingresso e listou ações realizadas, como a elaboração de plano de trabalho individual, auxílio financeiro, reuniões com professores e apoio à saúde mental. A reitoria também criticou o que considerou “exploração da dor” e ataques à imagem da universidade.
“Não se pode pedir por justiça e inclusão abusando de fragilidade emocional e praticando ataques à integridade de instituições públicas de ensino e de seus trabalhadores”, diz a nota. A íntegra do comunicado está disponível no site oficial da universidade.
Medo, desistência e tentativa de transferência
Isabelly, nas mensagens enviadas a Diego Andrade entre fevereiro de 2024 e novembro do mesmo ano, relatou sofrimento com a negação de direitos básicos, perseguições e falta de acolhimento. Ela chegou a manifestar desejo de transferir-se para a Unioeste, em Cascavel, onde moravam seus pais, mas relatava dificuldades no processo e falta de apoio jurídico.
“Já desisti de buscar meus direitos. Ninguém se importa. (…) Não quero reviver tudo de novo”, escreveu, em um dos trechos mais comoventes. Segundo Diego, ela temia represálias e manteve em segredo o fato de ter sido intimada a depor como vítima em uma investigação da Polícia Federal que envolvia outros alunos PCDs da UNILA.
Investigação
Diego Andrade procurou a Polícia Civil na tarde de 18 de junho para pedir a abertura de inquérito. Ele também encaminhou as conversas com Isabelly à Polícia Federal, esperando que as denúncias feitas pela colega sejam devidamente investigadas.
O caso reacende a discussão sobre saúde mental no ambiente acadêmico e os desafios enfrentados por estudantes neurodivergentes. Nas redes sociais, centenas de internautas exigem apuração rigorosa dos fatos e responsabilização de possíveis envolvidos.
Rede de apoio
Em momentos de sofrimento emocional, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio gratuito e sigiloso, 24 horas por dia, pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br.