Luzes, cores, brilhos, sorrisos estampados nos rostos e abraços apertados. Assim são muitas das celebrações de final de ano — e assim foi a nossa última confraternização na companhia.
Pacotes de presentes fechados, salão bem decorado, mesa requintada e música natalina ao fundo. Olhares curiosos para o pódio. A expectativa e a ansiedade sobre quem levaria os troféus para casa pairavam no ar.
O que ninguém percebe são os olhares que escondem dores, a maquiagem cobrindo as marcas causadas pelo estresse e pelo sono abalado. Há quem brilhe por fora, mas esteja debilitado por dentro.
O que se passa em cada momento de silêncio, em cada sorriso inibido, em cada palavra não dita? Tristeza, frustração, desilusão, solidão?
Uma de minhas colegas perdera o marido recentemente. “Ele gostava muito de você e do seu marido”, disse-me quando a abracei. Olhei para a mesa logo à entrada — foi ali que o cumprimentei no ano passado. As lágrimas insistiam em vir, mas ela levantou a cabeça em busca de força.
Não é fácil ser forte em momentos assim. Ela é uma guerreira, mas perdeu a batalha quando ele se foi. Vazio, solidão, tristeza. Ainda assim, foi chamada duas vezes ao pódio e celebrou conquistas com sua equipe.
Em tempos de Natal, muitos de nós terão motivos para celebrar, enquanto outros tentarão disfarçar suas dores. Nem sempre conseguimos representar.
Meu primeiro Natal longe de casa foi doloroso demais. Não fazia sentido. Não era minha casa, não estava com minha família. Não sei como me viram por fora, mas por dentro eu estava em migalhas.
Música, gargalhadas, aplausos e euforia para os que conquistaram suas metas durante o ano. Para esses, o sorriso é verdadeiro e a sensação de dever cumprido paira no ar. Essa fui eu. Melhor loja de 2025. Melhor em vendas. Melhor cultura. Melhor equipe. Melhor satisfação ao cliente. Levantei várias vezes para os aplausos e cumprimentos.
No entanto, mesmo eufórica e orgulhosa pelos resultados alcançados, observei um olhar perdido em uma mesa ao centro. Perdido e sem luz. Ele se levantou, pegou a jaqueta e eu então percebi sua falta de equilíbrio. Tinha bebido além da conta.

Melhor Loja, Melhor Equipe, Melhor Cultura, Melhor em Vendas, Maior crescimento em clientela e Maior em Satisfação ao cliente.
Sua intenção era dirigir para casa assim. Claro que não deixamos. Senti sua dor quando me abraçou. Não sei de onde vinha, mas era intensa.
Enquanto eu e outros colegas tínhamos as mãos cheias de troféus e reconhecimento, ele carregava sua dor. Nós levávamos alegria e sensação de dever cumprido, enquanto ele precisou ser levado para casa.
Em tempos de celebração de Natal e final de ano, que aprendamos a olhar além de nós mesmos. Que aprendamos a ver o outro. Um olhar perdido na multidão, ou até mesmo nas entrelinhas do silêncio.
Talvez seja tempo de chamar alguém para um abraço — ou ao menos evitar que nossa euforia nos cegue para o próximo.
Nossas mãos estavam cheias de metal frio e reconhecimento passageiro. As dele apertavam um fardo invisível e pesado. Naquela noite, aprendemos que o maior troféu a ser erguido não é o que celebra a meta batida, mas o cuidado que evita uma tragédia.
Que neste Natal e no ano que se inicia possamos sair da festa com uma única certeza: a de que o verdadeiro sentido de “equipe” não está apenas em celebrar o sucesso, mas em carregar a dor do outro quando ele já não consegue se sustentar.








