Está marcada para a próxima segunda-feira (1º) uma nova paralisação dos caminhoneiros autônomos. Descontentes com os aumentos dos combustíveis e com as propostas do governo para o setor, motoristas profissionais prometem parar e não descartam fechar parcialmente as rodovias na véspera do feriado de Finados. A perspectiva de greve preocupa porque, em 2018, quando a categoria parou por dez dias, diversas cidades tiveram problemas de abastecimento de produtos essenciais, como combustíveis e alimentos. Na ocasião, o movimento só começou a perder força após um acordo entre o governo e representantes da categoria, para baixar o preço do diesel.
Lideranças dos caminhoneiros autônomos garantem que a adesão à greve do dia 1º será alta, devido à política de preços adotada pela Petrobras no governo de Michel Temer (MB), que reajusta o preço dos combustíveis conforme a variação do dólar e do petróleo no mercado internacional. Mas não é possível dizer qual será o tamanho da greve pelo Brasil porque os caminhoneiros são uma categoria descentralizada, que não necessariamente responde às convocações de lideranças e entidades.
Em estados como Piauí, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, lideranças disseram que seus afiliados não vão parar. De 2018 para cá, já houve outras tentativas de greve. Segundo o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, foram 18 convocações de greve por parte dos caminhoneiros autônomos desde então. Nenhuma teve grande adesão ou disseminação pelo país. Na sexta-feira (29), às vésperas da greve, estados e Distrito Federal congelaram o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) dos combustíveis por 90 dias. Autônomos criticaram a medida, dizendo que ela é “paliativa” e não resolve os problemas apontados por eles.
O que querem os caminhoneiros
Os caminhoneiros autônomos reivindicam que o governo reveja o Preço de Paridade de Importação (PPI) praticado pela Petrobras. Adotada durante o governo de Michel Temer (MDB), essa política faz com que os valores de venda dos combustíveis sigam o mercado internacional e a variação do dólar. Portanto, quando o preço do barril do petróleo sobe lá fora, ele contribui para a alta dos preços dos combustíveis aqui. Em 2021, o diesel já acumula alta de 65,3% nas refinarias, e a gasolina subiu 73,4% no mesmo período. Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) aponta que a inflação dos últimos 12 meses para motoristas no para motoristas no Brasil chegou a 18,46%, o maior valor para a categoria desde 2000. O governo federal chegou a cogitar um auxílio-diesel de R$ 400 para 750 mil caminhoneiros autônomos, mas a reação dos motoristas foi negativa. “Foi visto como uma ofensa, e todos sabemos que nem isso o ministro [da Infraestrutura] seria capaz de cumprir. Ninguém está querendo assistencialismo. Ou ele muda o PPI ou cria um fundo de estabilização de preços”, disse Edvan Ferreira. O Fundo de Estabilização dos Preços dos Derivados do Petróleo é uma proposta de lei (PL 750/2021) do deputado Nereu Crispim (PSL-RS), da frente parlamentar. O projeto prevê alíquotas progressivas no imposto de exportação, conforme o valor do barril de petróleo. Essa arrecadação extra ajudaria o governo a subsidiar eventuais importações de derivados de petróleo, causando redução do preço final para o consumidor.
O que tem falado o governo
Desde o anúncio da greve em 1º de novembro, o governo federal tem tentado algumas medidas para apaziguar os ânimos dos caminhoneiros grevistas. Uma delas foi a proposta do auxílio-diesel. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, disse que a medida pode ser revista, mas criticou os autônomos e disse que eles precisam se reinventar e trabalhar em empresas. Segundo o ministro, a categoria também é “responsável por destruir o preço do frete”. As falas de Freitas foram vistas como ataque pelos autônomos.