domingo, 17 DE agosto DE 2025
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PF indicia Bolsonaro, Carlos Bolsonaro e Ramagem por esquema de espionagem ilegal com uso da Abin paralela

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A Polícia Federal indiciou nesta terça-feira, 17, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), no âmbito da investigação sobre o uso indevido da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para fins de espionagem política e pessoal durante o governo anterior. O esquema, revelado pelo jornal O Globo em 2023, ficou conhecido como “Abin paralela”.

Ao todo, mais de 30 pessoas foram indiciadas por envolvimento no caso. Entre os alvos estão também o policial federal Marcelo Bormevet e o subtenente do Exército Giancarlo Gomes Rodrigues, que integravam a cúpula da Abin. Segundo a PF, o grupo teria utilizado de forma clandestina o sistema de monitoramento First Mile, capaz de rastrear celulares por meio da conexão de rede com torres telefônicas, sem qualquer autorização judicial.

A estrutura teria operado para produzir dossiês ilegais, espalhar desinformação sobre o sistema eleitoral e monitorar autoridades como os ministros do Supremo Tribunal Federal Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Luiz Fux e Dias Toffoli; o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL); o ex-deputado Rodrigo Maia; e o ex-governador João Doria. Jornalistas, servidores públicos e até lideranças de caminhoneiros também estariam entre os alvos do monitoramento.

Em nota, a Abin afirmou estar à disposição das autoridades e reforçou que os atos investigados ocorreram em gestões passadas. Bolsonaro, Ramagem e Carlos Bolsonaro ainda não se manifestaram sobre o indiciamento. Em declarações anteriores, negaram a existência de estrutura paralela ou o uso da agência para fins ilegais.

Espionagem e tentativa de golpe

A investigação aponta que a chamada “Abin paralela” foi montada sob orientação de Bolsonaro e operada por Ramagem com o objetivo de sustentar politicamente o ex-presidente. A estrutura teria sido usada para atacar a credibilidade do sistema eleitoral e ampliar o clima de animosidade social. A PF identificou vínculos entre o uso do sistema de espionagem e a tentativa de golpe de Estado, pela qual Bolsonaro e Ramagem já são réus no STF.

Um dos métodos identificados pelos investigadores é o chamado “cercamento”, em que uma área geográfica era monitorada para verificar se determinado alvo transitava pela região. Essa prática teria sido adotada, por exemplo, nas imediações do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios. A PF investiga se advogados ou magistrados foram vigiados clandestinamente.

Monitoramento durante eleições e repressão ambiental

Outro ponto de destaque nas investigações é o pico de acessos ao sistema First Mile durante as eleições municipais de 2020. A PF identificou aumento significativo de monitoramentos no período, o que pode indicar tentativa de interferência no processo eleitoral.

Entre os nomes rastreados está o de Hugo Ferreira Netto Loss, servidor do Ibama responsável por coordenar operações contra garimpeiros ilegais na Amazônia. Loss foi exonerado do cargo em 2020, após a destruição de equipamentos usados em crimes ambientais.

Carlos Alberto Litti Dahmer, líder de caminhoneiros da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transporte e Logística (CNTTL), também foi monitorado. Ele havia convocado protestos contra Bolsonaro e aparecia como potencial foco de mobilização social contrária ao governo.

Sem registros formais

A falta de documentação oficial sobre o uso do sistema espião dificulta a reconstrução completa do caso. A PF investiga a vigilância em áreas nobres de Brasília, incluindo possíveis monitoramentos relacionados a embaixadas. No Rio de Janeiro, registros apontam uso da ferramenta na Zona Sul, com justificativa de combate ao tráfico de drogas — uma alegação considerada frágil pelos investigadores, que não identificaram operações formais que justificassem o rastreamento.

O caso da Abin paralela se soma a uma série de denúncias que envolvem o governo Bolsonaro em práticas ilegais de aparelhamento de instituições estatais, uso indevido de estruturas de inteligência e tentativa de minar os pilares democráticos do país.

As investigações seguem sob sigilo parcial, mas devem ganhar novos desdobramentos nas próximas semanas com o avanço das diligências e possíveis colaborações premiadas.

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