A Reforma Protestante, marco religioso e cultural que transformou o Ocidente, completa 508 anos em 31 de outubro de 2025. Iniciado com a publicação das 95 Teses de Martinho Lutero, em 1517, o movimento rompeu a hegemonia da Igreja Católica na Europa e consolidou profundas mudanças teológicas, políticas e sociais, dando origem a diversas denominações cristãs e reforçando valores como liberdade de consciência, alfabetização e participação cidadã.
Causas e contexto histórico
Às vésperas da Reforma, a Igreja Católica concentrava poder político e econômico na Europa. Práticas como a venda de indulgências, acúmulo de riquezas, influência sobre governantes e distanciamento da mensagem bíblica geraram insatisfação. O surgimento da imprensa ampliou o alcance das críticas e permitiu a circulação de ideias reformistas.
Em 31 de outubro de 1517, Lutero afixou suas teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, questionando a autoridade eclesiástica e defendendo princípios como:
- Sola Scriptura (Somente a Escritura): A Bíblia é a única autoridade doutrinária para a fé e a prática cristã.
- Solus Christus (Somente Cristo): Somente Jesus Cristo é o mediador entre Deus e os homens, sendo a única via de salvação.
- Sola Gratia (Somente a Graça): A salvação é um dom gratuito de Deus, recebido unicamente pela sua graça.
- Sola Fide (Somente a Fé): A salvação é recebida unicamente pela fé em Cristo, e não por obras ou méritos próprios.
- Soli Deo Gloria (Glória Somente a Deus): Toda a glória pela salvação e por todas as coisas deve ser dada somente a Deus.
Impactos globais
A Reforma moldou pilares da modernidade ocidental. Entre suas contribuições estão:
Incentivo à leitura individual da Bíblia e, consequentemente, à alfabetização.
Valorização da liberdade de consciência e da responsabilidade pessoal.
Transformação na política europeia, enfraquecendo o absolutismo e ampliando ideias de participação social.
Fragmentação da unidade cristã e nascimento de novas tradições religiosas.
Projeto propõe feriado nacional no Brasil
No Brasil, o debate sobre o reconhecimento da data ganha força. A deputada federal Daniela Reinehr (PL/SC) protocolou, em 24 de outubro, o Projeto de Lei 5410/2025, que institui o Dia da Reforma Protestante como feriado nacional, a ser comemorado anualmente em 31 de outubro.
Segundo a parlamentar, o objetivo é valorizar o legado civilizatório da Reforma. “A Reforma Protestante moldou os princípios que sustentam as sociedades democráticas até hoje. Reconhecer essa data é celebrar valores que também ajudaram a formar o Brasil que acredita, trabalha e produz”, destacou.
Daniela argumenta que a proposta não tem caráter confessional, mas reforça a liberdade religiosa e de consciência — fundamentos do Estado laico e garantidos pela Constituição. O texto do PL também menciona o impacto da Reforma no desenvolvimento de instituições educacionais, filantrópicas e sociais no país.
Dados do Censo IBGE 2022 apontam que 26,9% dos brasileiros — cerca de 47 milhões de pessoas — se identificam como evangélicos ou protestantes, e projeções indicam que o grupo pode ultrapassar 30% da população até 2030.
A proposta destaca ainda que o Dia da Reforma já possui reconhecimento oficial em países como Alemanha, Finlândia, Suécia, Noruega e Estados Unidos, e que organismos internacionais, como ONU e Unesco, tratam o movimento como marco cultural global.
O projeto seguirá para análise nas comissões da Câmara antes de ser votado no Plenário.
Legado vivo
Para pesquisadores e líderes religiosos, a discussão sobre o feriado reforça a importância do movimento na formação da sociedade brasileira. Além da relevância espiritual, o protestantismo contribuiu para políticas de educação comunitária, expansão de projetos sociais e fortalecimento do conceito de responsabilidade individual.
Mais de cinco séculos depois, o impacto da Reforma permanece visível — tanto nos templos quanto nas estruturas sociais, políticas e culturais do mundo contemporâneo.










