A campanha de fim de ano das sandálias Havaianas, estrelada pela atriz Fernanda Torres, colocou a marca no centro de uma nova controvérsia política nas redes sociais. A peça publicitária provocou reações de apoiadores da direita, que passaram a defender um boicote aos produtos da empresa, acusando a campanha de transmitir uma mensagem política velada.
A polêmica teve início a partir de um trecho do comercial em que a atriz afirma não desejar que as pessoas comecem 2026 “com o pé direito”, expressão popularmente associada à sorte. Na sequência, Fernanda Torres diz preferir desejar que o público inicie o ano “com os dois pés”, numa mensagem que, segundo a campanha, estimula a ideia de ação e protagonismo.
O conteúdo, no entanto, foi interpretado por políticos, influenciadores e militantes de direita como um sinal ideológico. Nas redes sociais, críticos acusaram a Havaianas de misturar publicidade com posicionamento político e de adotar um suposto viés à esquerda. Em resposta, alguns usuários passaram a sugerir a substituição da marca por sandálias concorrentes.
Entre as manifestações, o deputado federal Rodrigo Valadares (PL-SE), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou que a empresa estaria fazendo “campanha política explícita” e chegou a citar outras marcas como alternativa aos consumidores conservadores. Já o vereador do Recife Gilson Machado Filho (PL), filho do ex-ministro do Turismo Gilson Machado, publicou um vídeo questionando se a Havaianas também passaria a ser alvo de boicote por parte desse público.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) também se pronunciou, utilizando um trocadilho com o slogan mais conhecido da marca. “Havaianas: todo mundo usa”, diz a frase tradicional. Em resposta à campanha, o parlamentar escreveu nas redes sociais: “Havaianas, nem todo mundo agora vai usar”.
Influenciadores alinhados à direita reforçaram as críticas, afirmando que a empresa teria “misturado sandália com ideologia”. Até a publicação desta matéria, a Havaianas não havia se manifestado oficialmente sobre as acusações, e Fernanda Torres também não comentou a repercussão.
Marca simbólica em cenário polarizado
A controvérsia ocorre em um momento em que as Havaianas ocupam um espaço simbólico forte na cultura brasileira. Criada na década de 1960 como um calçado simples e funcional, associado inicialmente à classe trabalhadora, a marca passou por um processo de reposicionamento a partir dos anos 1990, com novos modelos, cores, parcerias e expansão internacional.
Atualmente, as sandálias são comercializadas em dezenas de países e figuram entre os produtos brasileiros mais reconhecidos no exterior, frequentemente associadas à ideia de brasilidade, informalidade e estilo de vida descontraído. Essa identidade consolidada ajudou a empresa a se destacar em um mercado altamente competitivo, mas também a expôs a disputas simbólicas em um ambiente político cada vez mais polarizado.
A reação contra a Havaianas acontece poucos dias após outra mobilização de grupos conservadores nas redes sociais, desta vez contra o SBT. A emissora foi alvo de críticas e pedidos de boicote após convidar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes para a inauguração do canal SBT News. O episódio dividiu opiniões, inclusive dentro da própria direita, onde parte classificou a reação como exagerada.










