Caminhando de casa para a escola, na minha amada Cachoeira (Praia Grande/SC), quando menina, um pensamento me ocorreu:
“Quando eu crescer, não vou conversar muito como os adultos. Acho que não vou ter muito o que falar”.
Eu gostava de observar as pessoas conversando. Mais que as palavras, eram as expressões que me fascinavam. Havia risos, gargalhadas, lágrimas discretas. Mas o que mais me assustava eram os rostos amargos, olhos carregados de mágoa e ressentimento.

Entrevista em 2000, com Chorão (in memorian), vocalista da banda Charlie Brown Jr, lembrando a música Te Levar, grande hit da banda na época, sendo tema de abertura da novela Malhação por durante sete anos.
Chorão faleceu em 2013.
Nas visitas que fazia com minha mãe a amigos e familiares, era sempre assim: alegria, silêncio, nostalgia, desabafo. Minha mãe, porém, mantinha o rosto sereno. Ela ouvia. Só ouvia. Respeitava o desabafo do outro sem precisar preencher o espaço com palavras.
Cresci com esse olhar. Ainda hoje, presto mais atenção no que vejo do que no que escuto. Mas a menina calada virou adulta falante também. Procuro me policiar: quero impactar o mundo positivamente com as minhas palavras, não ferir. Nem sempre consigo, mas sigo tentando.
Aprendi que tudo é questão de escolhas e de mentalidade. Pessoas de mente fechada não me atraem; as de crescimento me inspiram.
Certa vez, no salão de beleza, sentei ao lado de uma mulher falante. Não era arrogante, mas tinha opinião formada sobre tudo. Gente assim cansa: não escuta, interrompe, distorce. Ri das minhas palavras como se fossem tolices. Tentei me explicar três vezes. Desisti.
Há quem confunda conhecimento com sabedoria. Falam muito de si, mas pouco sabem do outro. Muitas vezes, não percebem que vivem atrás de um escudo de dor.
Na antiga série americana Murder, She Wrote (Assassinato por Escrito – no Brasil), a personagem Jessica Fletcher lida com esse tipo de gente com inteligência e serenidade. Nem sempre responde na hora; às vezes guarda para a ocasião certa. Lembrei disso quando, diante da tal mulher, apenas disse, como minha mãe costumava:
“Cada louco com a sua mania”.
O fato é que há pessoas que roubam nossa energia. E cabe a nós escolher: dialogar ou nos calar, prosseguir ou encerrar. Um diálogo só existe quando dois falam — e também sabem ouvir.
A menina que observava expressões cresceu. Hoje fala, mas também silencia. Porque aprendeu que ouvir pode ser mais transformador do que qualquer palavra.