Já falei sobre “Boundaries” várias vezes, mas até então não me dediquei profundamente no assunto para que você possa entender o meu raciocínio e aprender a usá-lo de uma forma que venha a contribuir para amenizar estresse e ansiedade no seu dia-a-dia. Boundaries é a palavra em inglês para “Limites” e já usei aqui a ilustração dos limites da sua propriedade com a minha. Neste caso, eu retrato os “Limites” no aspecto Responsabilidade e Respeito.
Se existe alguma coisa que pode me tirar do sério e fazer eu perder a minha compostura por alguns minutos, é a falta de responsabilidade e de respeito. No meu trabalho de desenvolver líderes para a companhia, faço questão de avisar com antecedência. São duas palavrinhas bem simples e ambas iniciam-se com a letra R (Responsibility and Respect) e elas determinam os nossos limites. Onde a minha propriedade começa e a sua termina.
Lembra quando você deixou de fazer o que era importante para você e ajudou o outro ao invés, simplesmente por não saber dizer “não” ou porque você tem um coração super generoso? Compaixão e empatia são primordiais em todos os tipos de relacionamento, seja em casa, no trabalho e na sociedade, mas as vezes, precisamos dizer não, tanto para o nosso próprio bem-estar quanto para bem-estar do outro.
E a mesma receita serve para quem lhe pede emprestado algo: dinheiro, carro, livros ou outras coisas. Quantas vezes fomos vítimas ou mesmo vilões de situações como essas. Emprestar ou pedir emprestado, não conseguir devolver no tempo determinado ou mesmo devolver com certos descuidos? Tanto propriedades como relacionamentos são constantemente danificados simplesmente por não sabermos colocar os “limites” necessários e muitos desses casos resultam em perdas irreparáveis: tanto de coisas como de pessoas que amamos.
Digo e repito: quando você aprender a colocar limites na sua vida, você irá se beneficiar muito e a sua saúde mental não será mais uma preocupação diária. Você poderá viver mais em paz e em tranquilidade podendo assim desfrutar do seu bem-estar, o que consequentemente resultará em harmonia no ambiente a sua volta pois os outros também se beneficiarão da sua nova versão.
Deixe-me que lhe conte uma situação em minha casa para que você perceba o quão valiosa é essa ferramenta chamada “limites” e para que você entenda que os “limites” devem ser colocados com cautela. Lembre-se: responsabilidade e respeito. Se você simplesmente colocar limites sem antes deixar claro que se o outro cruzá-lo, haverá consequências, isso trará resultados negativos ao invés de positivo. É como você colocar uma cerca elétrica de alta voltagem ao redor da sua propriedade sem antes avisar ou colocar um cartaz de advertência.
Então vamos lá! Meu marido é filho de portugueses e trouxe de berço uma mania de falar alto que me irritava. Em certas ocasiões em que as crianças ou eu mesmo deixava algo cair, mesmo sem quebrar, era um “Deus nos Acuda!”. Talvez fosse minha percepção na época, mas confesso que o tom de voz parecia muito alto. Detestava isso nele e ao invés de buscar solucionar o problema, eu me retirava chateada. Não falava com ele por dias e quando falava, nunca tocava no assunto. “Ah, deixa para lá! Passou!”, e a situação se repetia causando um efeito negativo no nosso relacionamento e nos filhos. Ele nunca foi agressivo, nem físico e nem verbal. É um homem íntegro e super amável que me faz mais forte a cada dia. Ele me inspira a ser a minha melhor versão sempre.
Ao estudar “Boundaries” (Limites) me dei conta que poderia mudar a situação com diplomacia e respeito. Um dia, num daqueles momentos de paz e tranquilidade, me aproximei e expliquei-lhe sobre o assunto e sobre o seu tom de voz. Eu sei que ele não fazia isso intencionalmente, mas expliquei-lhe que para que os limites fossem respeitados, precisaríamos colocar “consequências”. Mas ou menos assim foi a nossa conversa: “Por te amar e te respeitar, quando você elevar a voz, diante de um conflito, eu me retirarei até você se recompor. Se você continuar, ficará falando sozinho. Quero que me entenda que em nenhum momento isso lhe será uma afronta ou falta de respeito, muito pelo contrário”.
Não lembro o assunto, mas lembro-me muito bem a primeira ocasião em que me retirei de cena. Fechei a porta atrás de mim com muita delicadeza, mas ele abriu ainda falando comigo num tom de voz que se alastrava pelos outros cômodos da casa. Já na segunda vez, o tom de voz ainda era o mesmo, no entanto ele não me seguiu. Dali em diante, percebi o quanto ele se policiava quando o sangue fervia diante de um conflito de ideias.
Não sou perfeita! Ninguém é! Eu sei que meu temperamento era difícil e que como sendo o bebê da família, eu sempre queria que as coisas fossem do meu jeito. Não creio que eu tenha melhorado totalmente. Sempre há espaço para o aprimoramento, então ainda estou em constante progresso.
Entretanto hoje, nosso relacionamento está bem melhor e mais forte. Temos um tom de voz baixo e compreensivo um com o outro. Temos mais abertura um com o outro ajudando constantemente no crescimento mútuo. Afinal, somos amigos e não inimigos. Então por que deveríamos brigar? Que benefícios isso traz a qualquer tipo de relacionamento?
No trabalho, a situação não é muito diferente. Mas isso é outra história para contar em outro artigo. Porém vale lembrar que “limites” é uma ferramenta que você pode aplicar tanto em casa, como no trabalho e na sociedade.
No livro “Limites no Casamento” dos psicólogos Dr. Henry Cloud and Dr. John Townsend, podemos aprender um pouco mais sobre essa ferramenta que nos transforma em melhores seres humanos, porém não só o casamento se beneficia disso. Todas as pessoas à nossa volta. “É uma coisa maravilhosa quando um casal entra nesse processo construindo limites como uma equipe” (pag. 202). Segundo o livro, quando ambos preservam os limites um do outro, muitas coisas boas resultam, dentre elas a habilidade de desenvolver autocontrole e paciência, como também a humildade e autocorreção. Você passa a apreciar o seu cônjuge mais por quem ele(a) é do que o quanto ele (a) é útil para você. Você depende menos das reações do seu cônjuge e mais nos seus próprios valores para ser feliz.
Então, o que você está esperando? Quais são os limites que você precisa colocar em casa, no trabalho ou na sociedade para assim amenizar o estresse e ansiedade que insistem em perturbar o seu dia ou a sua noite de sono?
Responsabilidade e respeito são duas palavrinhas simples que a gente espera encontrar no outro, mas na verdade, elas começam dentro de cada um de nós. Lembre-se: você não precisa se virar do avesso, mas vale lembrar de deixá-las fluir em suas palavras e atitudes.
