Na segunda-feira, ao cortar o cabelo, me deparei com um verdadeiro filósofo de barbearia. Era um guri de apenas 16 anos, sentado na cadeira ao lado, em uma conversa fervorosa com o barbeiro, que parecia mais um conselheiro sentimental do que um profissional de tesouras. Aparentemente alheio ao mundo ao redor, ele discorria sobre suas desilusões amorosas com a veemência de um poeta frustrado. E, entre uma frase e outra, eu ouvi a sentença que prendeu minha atenção: “o amor é uma bosta”.
Um jovem de 16 anos, já tão desiludido! Fiquei intrigado. Era como se ele tivesse lido todos os romances trágicos da literatura e decidido que o amor era uma armadilha. E, claro, não faltava o famoso “tá ligado”, usado como se fosse uma vírgula em suas frases. Se eu não estivesse ali, teria imaginado que estava assistindo a uma versão teen de um programa de debates.
“Ela não era a mulher da minha vida”, ele lamentava. Olhei para o meu reflexo no espelho e pensei: será que já passei por tanta coisa assim? Afinal, com 23 anos, eu já era um verdadeiro veterano em questões do coração. Então, ele continuou: “Só vou poder dizer que uma mulher foi a mulher da minha vida quando estiver com 99 anos e tiver um comparativo da minha vida”. Ouvindo isso, fiquei pensando: quem precisa de um comparativo quando se tem o presente?
Enquanto o Felipe finalizava o meu corte, não pude deixar de refletir sobre o quanto as nossas experiências nos moldam. Para o guri, o amor era uma bosta; para mim, é uma maravilha. Mas quem estava certo? O adolescente com seu desencanto ou eu, um adulto, já com uma mulher que considero a “mulher da minha vida”?
Depois de um tempo de reflexão e com o cabelo recém-cortado, olhei para o guri e disse: “Olha, amigo, o amor é uma maravilha! Não é uma bosta. É uma decisão. A gente decide amar e fazer dar certo!” Ele me lançou um olhar cético, como se eu fosse um alienígena recém-chegado.
E enquanto caminhava, pensando em como o amor poderia ser interpretado de maneiras tão distintas, percebi que, no fim das contas, tudo se resumia a isso: a juventude tem suas decepções e eu, com meu corte de cabelo “na régua”, continuo acreditando que o amor é uma das melhores decisões que podemos tomar.