Sabe aqueles amigos que estão ao nosso lado há anos, mesmo à distância? Nós temos alguns assim — e cada um traz algo de inusitado que o torna único.
Scheila, por exemplo, é minha amiga desde que eu tinha 18 anos e ela, 8. Temos quase dez anos de diferença, mas uma sintonia que poucos têm. Na verdade, amigos assim são como membros da família, pois laços de coração, para nós, contam mais do que laços de sangue.

Além de ser palco de grandes acontecimentos da alta sociedade no Berkshire em Massachusetts, Ventfort foi também parte importante no filme “Regra da Vida” (The Cider House Rules) com o ator Tobey Maguire – um século mais tarde (1999).
Amigos como ela são aqueles que nos levam do chão ao céu em minutos — mas também nos fazem voltar de lá em segundos. Verdade! São pessoas que nos impulsionam para a vida porque acreditam em nós, e ao mesmo tempo nos dão aquele “pé no traseiro” para que sigamos em busca dos nossos sonhos e metas. No entanto, são também os que nos trazem de volta à realidade quando estamos no mundo da lua.
Quando temos alguém assim ao nosso lado, não medimos esforços para agradá-los — e às vezes até passamos do limite tentando ser recíprocos na amizade.
Noutro dia, enquanto me visitava com sua mãe, Scheila e eu fizemos um passeio pelas montanhas de Berkshire, aqui em Massachusetts, apreciando o prenúncio do outono multicolorido da Nova Inglaterra. Desde o início, ela falava de um tal “chocolate quente” que queria experimentar em uma cidade vizinha à minha.
Ela nos mostrou uma linda foto de uma xícara em um post nas redes sociais. Sabe aquela imagem que faz nossos olhos brilharem? Aquela que nos faz imaginar sentados num ambiente acolhedor, quase sentindo o aroma do chocolate? Pois é — bem assim!
Andamos milhas e milhas para chegar até lá… apenas para descobrir que a expectativa não condizia em nada com a realidade. É claro que aproveitamos o cenário estonteante da folhagem multicolorida ao longo da viagem, e o ambiente era bonito e aconchegante. Mas a experiência, ah, foi frustrante.
Enquanto Scheila pediu o tão sonhado “chocolate quente”, eu pedi um cappuccino. Sentamos, as bellas, à mesa da janela, naquele clima de filme americano. Pasmem: meu cappuccino estava horrível! Não foi feito com café expresso, mas com café regular e velho. Nem a apresentação era atraente — e nem vale mencionar a espuma.
Já deu para imaginar a nossa cara de decepção. Experimentei um pouco do chocolate quente — parecia feito com o mesmo achocolatado comum que crescemos tomando. A xícara era igual a do post, só que sem pires.
Expectativa versus realidade.
Como lidar com uma situação frustrante como essa sem deixar que abale nossa saúde mental? Na vida, enfrentamos inúmeras situações semelhantes: um novo relacionamento, uma nova oportunidade profissional, um amigo, um produto, um livro, uma viagem…
A diferença está em como reagimos a isso — em não permitir que a decepção limite nossos sonhos ou distorça nossas expectativas. Como olhar para o próximo relacionamento sem comparar com o anterior? Como não deixar nossa autoestima cair quando percebemos que a roupa nova não ficou como imaginávamos na vitrine ou no site?
“Don’t judge the book by its cover” — não julgue o livro pela capa — é uma expressão americana que nos lembra de não tirar conclusões precipitadas sobre algo ou alguém apenas pela aparência. Em bom português: as aparências enganam!
Scheila e eu poderíamos ter estragado o dia com aquela frustração, mas preferimos seguir com leveza. Rimos da situação, aproveitamos o tempo com sua mãe e decidimos não permitir que um chocolate ruim adoecesse o nosso humor.
Quando as coisas não saem como planejado, ou quando percebemos que nos empolgamos demais com o que não era o que parecia, talvez o melhor seja sermos mais cautelosos nas próximas escolhas — e, quem sabe, pesquisar um pouco mais antes de “comprar gato por lebre”.
No fim das contas, o chocolate pode não ter sido doce como esperávamos… Mas a amizade e as risadas daquele dia foram o verdadeiro sabor que levamos conosco.