Uma das minhas paixões desde menina é conversar com gente mais velha. Eu amo crianças, claro, mas os idosos têm uma bagagem tão grande de conhecimento e sabedoria que é impossível não aprender com eles. Talvez por isso eu amei quando escrevi “Essas Mulheres Maravilhosas” no tempo do jornal Tribuna Sombriense. Hoje em minha jornada de trabalho aqui nos EUA, é comum você me encontrar dialogando com alguém com alguns anos a minha frente. E foi num desses diálogos que estreitei os laços com Elaine, uma senhora americana que meus funcionários a chamaram de “Grandma” (Vó).
Pela manhã, “Vó” costumava sentar-se numa mesa para um café com seu marido e à tarde voltava para outro café trazendo consigo um livro. Amava conversar com os dois e sempre que possível, aproveitava um pouco do tempo dela quando voltava à tarde. Um dia, resolvi perguntar o porquê de estar sozinha. Prontamente e educadamente ela me respondeu com um sorriso: “Me Time”!, ou seja, “Meu Tempo”. “Não é preciso dizer mais nada!”, eu disse pronta a retirar-me. Ela como sempre elegante ao falar, me explicou que pela manhã aproveitava a companhia do marido ou de amigas, mas que a tarde o tempo era só dela. Entendi a mensagem e daquele dia em diante, passei a valorizar ainda mais a importância de um momento a sós com meu café.
Há dias que tudo o que precisamos é de um “Me Time”. Aquele momento só nosso. Aquele momento em silêncio para tomar um café ou qualquer outra bebida favorita. Talvez ler um livro ou ouvir uma música. Talvez apreciar o pôr do sol, a lua ou as estrelas. Quem sabe deixar uma brisa acariciar a nossa face ou o vento soprar o nosso cabelo.
Em momentos de cansaço ou esgotamento, tirar um tempo só seu pode ser a melhor terapia. Você não precisa ir longe, só precisa sentir-se bem e confortável. Você não precisa ir a lugar exótico. O simples também faz a diferença. Você não precisa ir a um lugar público como no caso de vó. Eu prefiro o silêncio no meu quintal ou de uma biblioteca. A escolha é você que faz. Eu gosto de ler e escrever, mas às vezes faz bem parar o carro para ouvir a água corrente de um rio, pássaros cantando ou mesmo as ondas do mar. Tudo o que importa num momento assim é que ele seja unicamente seu.
Em momentos de estresse ou ansiedade, pense nisso. Busque refúgio num tempo só seu. Você pode praticar meditação ou oração. O momento é seu! Quem determina o que fazer dele, é você. Lembra de quando comentei sobre “Mindfulness”(mente cheia e mente atenta)? Pois momentos assim é que essa prática nos ajuda a alinhar a emoção com a razão.
Quando a correria do dia-a-dia é grande demais e você não consegue encontrar tempo para equilibrar todas as tarefas, talvez deixar tudo às avessas por alguns minutos seja a melhor solução. O “Meu Tempo” tem o poder de equilibrar energias, recarregar baterias e nos tornar mais fortes fisicamente, mentalmente e emocionalmente.
Sabe aquele mandamento: “Amar os outros como a você mesmo”? É mais que uma regra de ouro! Nunca foi dito para você amar os outros primeiro. Separe isso por parte: “amar os outros – como a você mesmo”. Agora: amar (os outros) como a você mesmo. Reescreva eliminando o parênteses: “amar como a você mesmo”. Ou seja, “ame os outros como você ama a si próprio”. Diga-me, como podemos entender a intensidade do amor e sua verdadeira definição se não começarmos por nós mesmos?
Amor-próprio não é egoísmo ou narcisismo. É conhecer seu próprio valor. É sentir-se bem para amar e ajudar o outro. E para tanto, é importante conhecer o valor de estar sozinho. Ser autossuficiente! Não quero dizer que você não precisa de ninguém para ser feliz. É fundamental valorizar a companhia do outro. Mas é essencial nos valorizarmos primeiro.
Amor-próprio gera autoestima que nos torna mais confiantes. Autoconfiança gera segurança e determinação. Determinação nos impulsiona para frente em direção aos nossos objetivos, nos dando a capacidade de nos tornarmos fortes para qualquer batalha. Pessoas fortes e decididas têm maior capacidade de tornarem-se bem-sucedidas. E são pessoas assim que a gente sente bem em estar por perto porque elas são pró-ativas. Elas não ficam naquele dilema de “chorar pelo leite derramado”. Elas limpam a sujeira e seguem em frente.
Outro dia, voltei para rever aquele antigo local de trabalho onde conheci Elaine. Era domingo à tarde e lá estava ela com seu café, não sozinha desta vez, mas na companhia de Ann, uma outra alma carinhosa. Contei-lhe sobre o efeito do “Meu Tempo” que aprendi com ela e de como tenho ajudado outras pessoas ao longo dos anos. Eu sempre tive amor-próprio. Sempre valorizei um bate-papo e um café, porém nunca tinha valorizado “Meu Tempo” sozinha até conhecê-la.
O mundo precisa de uma sociedade onde “Lutamos uns pelos outros”, mas lembre-se, antes de querer transformar o mundo, transforme-se em primeiro lugar. Reserve um “Meu Tempo” no seu dia-a-dia. Por alguns minutos, esqueça o ontem e o amanhã! Viva o “Aqui e Agora”. Viajei nesse momento seu e verá o quanto mais forte você irá encarar qualquer desafio a frente.