“Vontade de sumir!”, diz uma amiga, indignada com os contratempos que ultimamente vinham tirando-lhe o sono e a vontade de viver.
“Vontade de desaparecer!”, desabafa outra, cansada de tantos desafios e da falta de compreensão das pessoas ao seu redor.
Quem nunca passou por uma situação semelhante? Quem nunca quis sair de cena, mesmo que por alguns instantes, e ter um tempo a sós consigo mesmo?
Eu e minha família fazemos algo assim — juntos, é claro — todos os anos. É o nosso refúgio nas montanhas, entre os encantos naturais e históricos de Berkshire, em Massachusetts. Quase todos os anos somos presenteados com a primeira neve da temporada — um instante sempre mágico, que renova nossa paz e nos lembra do valor do silêncio e do recolhimento.
Esses momentos sempre me fazem lembrar de uma velha lenda: a da águia que se refugia nas montanhas para passar por um período de transformação. Embora inspiradora e impactante, ela não tem comprovação científica na biologia das aves.

Ainda assim, ao longo da minha jornada, tenho me espelhado nessa lenda sempre que enfrento dias difíceis. Quando as férias de novembro chegam, lembro-me da ave que voa para o alto, em busca de renovação e superação.
A lenda da Renovação da Águia conta que ela poderia viver até 70 anos, mas que, ao chegar aos 40, suas garras e bico já estariam curvos e pesados, dificultando o voo e a caça. Às vezes penso que quem escreveu essa história talvez falasse de si próprio.
Diante da angústia, a águia teria duas opções: morrer ou enfrentar um processo doloroso de renovação que duraria cerca de 150 dias. Claro que a nossa ave inspiradora não se deixaria abater tão facilmente. Ela sabe que altos voos exigem altos preços, e que chegar ao topo requer determinação e persistência.
Não preciso contar a lenda toda — nem descrever em detalhes como é o meu refúgio nas montanhas. O que quero compartilhar é simples: não importa onde nem quando se refugiar, mas permitir-se um tempo para se desligar das correrias e das pessoas que drenam nossa energia faz bem para o corpo e para a alma.
A águia da lenda, depois do período de isolamento, retorna renovada, voando ainda mais alto. Da mesma forma, quando paramos para refletir e deixar para trás o que nos impede de avançar, abrimos espaço para alcançar nossos sonhos e objetivos.
É essencial avaliarmos nossos anseios e metas. Não precisamos esperar o fim do ano para traçar listas de resoluções. Quando desejamos mudança, introspecção, foco e sacrifício são inevitáveis — e, muitas vezes, indispensáveis.
Então, quando aquele desejo de “sumir” bater à porta, talvez seja apenas o sinal de que é hora de se renovar. A dor pode até fazer parte desse processo, mas, assim como a águia, você é quem escolhe o que fazer dela.
Escolha ser forte. Escolha ser resiliente. Mostre a si mesmo que é capaz de quebrar as barreiras que o impedem de ir mais longe. Você não precisa provar nada a ninguém — porque, quando se renova, sua luz brilha por si só.









