segunda-feira, 6 DE outubro DE 2025
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Entrevista | “Nossa proposta é proteger negócios e pessoas”

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Gilberto Seleme, presidente de Fiesc

Diante de um cenário econômico em desaceleração por conta da queda das exportações para os EUA, após entrar em vigor as altas taxas impostas pelo presidente norte americano Donald Trump, e até mesmo antes disso, a Fiesc lançou um pacote de programas chamado de DesTarifaço, para auxiliar tanto a indústria quanto o trabalhador. O novo presidente da Fiesc, Gilberto Seleme, já inicia sua gestão com este desafio em mãos.

A Coluna conversou com ele sobre as ações para enfrentar este momento complexo e sobre os desafios de sua gestão. Confira:

 

Pelo Estado – A Fiesc lançou um programa para apoiar indústrias exportadoras e trabalhadores afetados pelo aumento das tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos, que foi chamado de Destarifaço. Como este programa foi construído?

Gilberto Seleme – O tarifaço atingiu a indústria catarinense de uma maneira muito dura. Já no início, ainda surpresos, começamos a trabalhar para ajudar quem foi prejudicado. Nossa proposta é proteger negócios e pessoas. Em agosto, em mais uma ação de ajuda, lançamos o desTarifaço. Ele dá apoio na busca por crédito e benefícios governamentais, consultoria para abertura de novos mercados e adequação de produtos e linhas de produção. Também dá consultoria jurídica sobre recursos da CLT e negociações sindicais. Oferece qualificação a funcionários inativos e acolhimento e requalificação para trabalhadores demitidos. As nossas entidades, especialmente SESI/SC e SENAI/SC, estão mobilizadas nesta ajuda. Também trouxemos o BNDES que apresentou à indústria as linhas de crédito disponíveis para as exportadoras afetadas pelo tarifaço. O financiamento é fundamental para atravessar esse momento crítico e os bancos de fomento têm um papel importante para auxiliar o setor produtivo.

 

Pelo Estado – Existe uma expectativa para a mudança deste cenário, ou seja, para que os EUA recuem nas tarifas, a curto ou médio prazo? Tem algum movimento sendo feito para que isto aconteça? Qual?

Gilberto Seleme – As tarifas impostas pelos Estados Unidos têm viés político, e não econômico. Não acreditamos em solução a curto prazo. Temos indústrias, principalmente da área de madeira e móveis, sendo fortemente afetadas. Quase 40% do que mandamos para os EUA são produtos de madeira. O pior é que o impacto não acontece só agora. Ele é sentido no futuro também: o empresário que precisa parar a produção, perde trabalhadores. Se a parada durar seis meses, por exemplo, este trabalhador muda de cidade, muda de empresa, e isso tudo dificulta o recomeço. Recentemente, estivemos nos Estados Unidos numa missão da indústria brasileira que pavimentou o caminho para as negociações de longo prazo, a partir de reuniões com o Congresso norte-americano, Câmaras de Comércio, órgãos governamentais e clientes de empresas brasileiras. Nós também reunimos representantes de mais de 30 câmaras bilaterais — elas são canais de promoção comercial. Além disso, estamos realizando missões e rodadas de negócios, buscando a abertura de novos mercados. Mas tudo isso leva tempo e os resultados devem ser sentidos no médio e longo prazos.

 

Pelo Estado – E como o senhor avalia o cenário econômico atual do Estado diante do Tarifaço?

Gilberto Seleme – O cenário é desafiador. Em agosto, nossas exportações para os Estados Unidos caíram quase 20%. Em julho, tivemos quase 600 demissões nos segmentos de madeira e móveis. Empresas foram obrigadas a fazer novas demissões nos últimos dias, dada a falta de perspectiva de retomada dos negócios com os Estados Unidos. Mas a FIESC está trabalhando para apoiar a indústria e o empresário. Estamos confiantes de que com diplomacia, estratégia e muito trabalho vamos superar esta fase e retomar a normalidade. Além do tarifaço, é importante considerar que a economia nacional também está desaquecendo, em decorrência do longo ciclo de juros elevados. Então, é um momento de bastante atenção.

Pelo Estado – O senhor assumiu recentemente a presidência da Fiesc. Quais são as prioridades da sua gestão?

Gilberto Seleme – Daremos ênfase à valorização das pessoas porque são elas que fazem a indústria: tanto os empresários, quanto os trabalhadores. E são as pessoas que progridem, crescem e se transformam para melhor a partir do desenvolvimento econômico e social gerado pela indústria. Tenho esse compromisso com os empresários, com os trabalhadores e com a sociedade. E é com esse olhar que trabalharemos para manter a indústria de Santa Catarina forte, competitiva e como referência no país e no mundo. Por isso, nossa gestão vai continuar defendendo temas importantes para a indústria catarinense. Educação, inovação e tecnologia sempre estiveram em nossas prioridades. Saúde do trabalhador e defesa dos interesses nas áreas trabalhista, ambiental e legislativa, também. Infraestrutura é outro ponto importante: temos que trabalhar para melhorar as rodovias, principalmente as federais, além de melhorar nossos portos e aeroportos. Também temos que enfrentar o custo alto da energia e a complexidade dos impostos.

 

Pelo Estado – E quais o senhor considera que serão os maiores desafios?

Gilberto Seleme – O desafio do momento é o tarifaço. Isso pegou todo mundo de surpresa e tem tomado nosso tempo. Estamos falando com muita gente o tempo todo para tentar mudar isso. Mas as questões que integram o Custo Brasil, que tira a competitividade das indústrias da porta para fora das fábricas, seguem sendo agendas centrais.

 

Pelo Estado – Sua relação com a Fiesc já é de longa data. Quais projetos iniciados na gestão do Mario Cezar de Aguiar que continuarão sendo trabalhados na entidade e quais os novos que virão?

Gilberto Seleme – A gestão do presidente Mário, da qual participei, foi muito positiva. Tivemos grandes conquistas e este trabalho sempre será lembrado pelos bons resultados, principalmente na área da educação. Nós pretendemos seguir no mesmo caminho, na mesma pegada. O importante trabalho realizado na área de infraestrutura vai continuar, pois temos gargalos importantes a vencer, como o acesso aos portos, a conclusão da duplicação das BRs 280 e 470. Também é essencial equacionar os graves problemas das BRs 282 e 101, para citar alguns exemplos. Em relação à qualificação profissional, tenho dito que é prioridade porque o futuro da indústria passa, inevitavelmente, pela capacidade de formar pessoas preparadas para pensar, resolver e inovar. Num mundo onde a inteligência artificial se expande em ritmo acelerado, a inteligência humana segue insubstituível — desde que bem preparada. Destaco ainda o compromisso com a valorização do associativismo. No dia 22 de agosto, quando tomei posse, disse que é o associativismo que dá sentido à missão institucional da FIESC porque é o nosso sistema sindical que permite enxergar com clareza os desafios e as oportunidades da indústria catarinense. São os sindicatos que captam as urgências das empresas, traduzem demandas setoriais e mobilizam os empreendedores em torno de pautas comuns.

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