Muito provavelmente pela pressão que tem sofrido ao longo dos últimos três anos, que acabou com o desdobramento de uma condenação de 27 anos de prisão, por tentativa de golpe, e outros crimes correlatos, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já não tem mais o mesmo posicionamento firme e irredutível que marcou sua gestão presidencial, e especialmente o seu mandato parlamentar na Câmara dos Deputados. Mais notadamente nos últimos meses, Bolsonaro parecer ter optado por navegar ao sabor do vento, o que nunca foi de seu feitio, muito pelo contrário.
Na semana passada, por exemplo, o ex-presidente recebeu em sua casa, no Rio de Janeiro, a deputada federal Carol de Toni (PL), que foi conversar com ele sobre as candidaturas ao Senado por Santa Catarina. Bolsonaro reafirmou seu apreço pela deputada, a incentivou a disputar o Senado, e disse que o filho dele, Carlos Bolsonaro, fará o mesmo em nosso Estado. No dia seguinte, Bolsonaro recebeu o senador Esperidião Amin (PP), que foi tratar do mesmo tema. O teor da conversa entre os dois foi o mesmo. O ex-presidente o incentivou Amin a disputar o Senado, reiterando que Carlos fará o mesmo. Em princípio não parece haver muita lógica nesta conduta do ex-presidente, já que em 2026 escolheremos apenas dois Senadores, todavia, ele tem incentivado três candidaturas que orbitam seu entorno. Vale lembrar que Bolsonaro já havia tentado convencer o prefeito de Chapecó, João Rodrigues (PSD), a desistir de sua pré-candidatura ao Governo do Estado para se aliar ao governador Jorginho Mello (PL) e disputar o Senado.
Na mesma reunião que teve com Carol de Toni, Bolsonaro disse que provavelmente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Rep), disputará à reeleição, abrindo mão, com isto, de concorrer ao Palácio do Planalto. No embalo, enfatizou que Ratinho Júnior (PSD) deverá ser o candidato dos partidos de direita para enfrentar o projeto de reeleição do presidente Lula da Silva (PT). Três dias depois, o ex-presidente disse que apoiaria Tarcísio de Freitas à Presidência, e sugeriu que sua esposa, Michele Bolsonaro (PL), seja sua candidata a vice. Na conversa com Carol de Toni ele havia dito que Michele seria candidata ao Senado pelo Distrito Federal.
Em meio a estas informações cruzadas, diretamente dos Estados Unidos, o ainda deputado federal paulista Eduardo Bolsonaro se diz pré-candidato à Presidência. Se o projeto não for viabilizado por seu atual partido, o PL, o será pelo PRTB, conforme o parlamentar. Nos bastidores da política, em Brasília, se especula a possibilidade desta aludida pré-candidatura de Eduardo ser um mero jogo de cartas marcadas com seu pai, para assegurar espaço para um Bolsonaro na chapa presidencial de direita ano que vem. Mas também há os que defendam que Eduardo pretende seguir carreira solo e, neste sentido, estaria caminhando a passos largos para um rompimento com o ex-presidente.
Observe que estas situações depõem frontalmente contra o modus operandi do bolsonarismo, que é justamente o de seguir um caminho sem olhar para os lados, e sem abrir espaço para diálogos e conjecturas. No fim das contas, o que Bolsonaro está fazendo é justamente o que fazem os políticos tradicionais, tão criticados por ele.
Finais
Governador Jorginho Mello (PL) admitiu pela primeira vez a possibilidade de composição majoritária com o PSD, em seu projeto de reeleição ano que vem. Em entrevista a imprensa de Itajaí, o governador sentenciou que uma das vagas de candidatura ao Senado por sua coligação está definitivamente destinada ao vereador carioca Carlos Bolsonaro (PL). A segunda vaga, de acordo com Jorginho, poderá ser endereçada ao senador Esperidião Amin (PP), ou ao prefeito de Chapecó, João Rodrigues, que, por ora, mantém firme sua pretensão de também disputar o Governo do Estado pelo PSD. Para colocar um pouquinho de lenha na fogueira, Jorginho disse que sua candidata ao Senado seria a deputada federal Carol de Toni, mas que a vaga que caberia ao PL acabou sendo ocupada por Carlos Bolsonaro, a pedido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em relação a este assunto, Bolsonaro diz que a conversa foi outra. De acordo com o ex-presidente, inicialmente estava previsto que o PL lançaria dois candidatos ao Senado em Santa Catarina. Estas duas candidaturas seriam de Carlos Bolsonaro, indicado pelo ex-presidente, e de Carol de Toni, indicada pelo governador Jorginho. No meio do caminho Jorginho teria convergido para Esperidião Amin, abrindo agora, pelo visto, margem para uma negociação com João Rodrigues. Seja como for, o fato é que a possibilidade de Carol de Toni ser candidata ao Senado pelo PL é praticamente nula, o que a fará, muito provavelmente, se filiar ao Novo para levar adiante seu projeto. Outra possibilidade é a de que ela se filie ao MDB para compor como vice de Jorginho Mello, algo que também é tratado nos bastidores da política da capital catarinense.