Março é considerado o Mês da Mulher, período em que elas ganham maior visibilidade em campanhas, discussões e ações sociais. Porém, o protagonismo e a luta das mulheres se estende por todo o ano e, para a maioria delas, começa desde o início da vida adulta. Com esperança e determinação, elas vão abrindo caminho.
Para algumas, o caminho ainda é trilhado quase que exclusivamente por homens. A psicóloga Gislane Dias Cunha tem uma profissão em que as mulheres predominam. Mas escolheu outro rumo, onde os homens é que mandam, digamos assim: a política. Provando que a mulher pode ser o que quiser, Gislane hoje é a primeira prefeita de Sombrio, e a única desta legislatura entre os 15 municípios da região. “Já fui muita reunião em que só tinha eu de mulher. Às vezes, chego nos encontros em outras regiões, e me perguntam se eu sou secretária municipal. Não fazem esse tipo de pergunta aos meus colegas homens. A mulher pode ser o que quiser, basta acreditar no seu próprio potencial”, defende.

Essa crença, de que tem valor e capacidade, precisa ser ainda maior para uma mulher negra que veio de uma família humilde. Selma Wolff conhece bem essa realidade. Foi diarista, empregada doméstica e enfrentou a pobreza e o preconceito até se formar em História e ser professora. O preconceito, aliás, ela ainda enfrenta. “Ser mulher e negra nesse país é muito difícil. Hoje estou onde gostaria de estar, e toda mulher pode, desde que vá à luta”, diz.

Espaços conquistados
A jovem Araceli Mariane, graças às lutas de outras gerações de mulheres, teve uma trajetória menos conflituosa na questão de gênero. Mesmo assim, vive a rotina de tentar conciliar, da melhor forma possível, o papel de mãe de um bebê de seis meses e a profissão no setor da Odontologia, com especialidade em harmonização facial. “Atendo muitas mulheres que saem da clínica com a autoestima elevada, isso é o mais gratificante. Depois dos procedimentos, elas ficam mais felizes”.

A busca pela felicidade pode significar se libertar de padrões de beleza impostos principalmente ao sexo feminino, e que acarretam em sofrimento. É aí que entra a psicóloga e cabeleireira Talita Ferraz. No salão de beleza em que trabalhava, ela se dedicava a transição capilar, processo que consiste em deixar as madeixas mais naturais. “As mulheres, de maneira geral, não gostam de cabelos crespos e ficam fazendo alisamentos. É a tentativa de se enquadrar em um padrão ideal”, analisa. Recém-formada em psicologia Talita, por coincidência, tem atendido somente mulheres em seu consultório.

Se as mulheres são a maioria no cuidado com o corpo e a mente, são a maioria também em quase todos os cursos da Universidade do Sul de Santa Catarina. Tanto que a reitora da Unesc é uma mulher, assim como a diretora do polo da universidade em Araranguá. Izabel Regina de Sousa sempre gostou de estudar, conquistou um lugar de destaque na educação superior e vibra com as conquistas femininas. “Eu sinto orgulho sempre que vejo uma mulher ocupando um ligar de liderança. Isso tem sido mais comum, mas ainda temos muito espaço a conquistar”, analisa.

Medos e vitórias
A mulher pode realmente se dedicar ao que quiser, inclusive a religião. Ser freira não é abrir mão do mundo, é somente uma escolha feita por uma mulher. Parece óbvio, no entanto, a irmã Idalis Lúcia Macarini, da congregação das Sacramentinas, instalada em Sombrio, faz um desabafo: “As pessoas não nos veem como mulheres. Eu senti o chamado da vocação aos 15 anos de idade, e tinha muitos questionamentos, como as outras meninas”. É um dos exemplos de que a mulher pode se sentir feliz e completa mesmo sem casar, ser mãe ou seguindo regras para alguns consideradas rígidas demais, desde que seja escolha sua.

Quando são as circunstâncias que obrigam a escolha, a mulher precisa ter uma coragem ainda maior para seguir em frente. Esta é a história da presidente da CDL de Sombrio, Paloma Corvalan. Aos 16 anos, ela veio do Chile para o Brasil trazida pela mãe, e aqui construiu sua trajetória. As batalhas e perdas, a começar pela da própria pátria, foram muitas, apesar disso, ela mantém a fé. “Os tempos são melhores, tudo evolui, eu tenho esperança”, fala.

Luci Melo também é lojista em Sombrio como Paloma. Sempre foi batalhadora e criativa, e durante a pandemia teve que buscar forças dentro de si e na família para não desistir. “Trabalho com roupas para festas e eventos, o setor mais afetado nestes dois últimos anos. Várias vezes me disseram para desistir da loja, e não aceitei. Já sou avó, porém, tenho muitos sonhos a realizar”.

Iara Cezário Pereira trabalha em uma agroindústria, e garante que às mulheres que atuam na agricultura familiar são empoderadas, buscando sempre qualificação profissional e qualidade de vida.

Todas as mulheres desta reportagem participaram de um encontro promovido pelo jornal Correio do Sul, Rádio 93.3 FM e Portal C1. “Foi uma alegria receber este grupo querido. Sei que para estarmos aqui hoje, falando de conquistas, outras mulheres sofreram antes de nós”, lembrou a coordenadora do projeto Alissandra Paganini.

Todas falaram de desafios e medos superados. A editora do Correio Sul, Gislaine Fontoura, ressaltou a experiência de criar o filho sozinha. “Eu temia não dar conta de botar comida na mesa, de cuidar dele, mesmo com o apoio valioso da minha família. Depois percebi que dava conta sim, e hoje é mais fácil, criei meu filho e conquistei meu espaço profissional”, enfatizou.

Todas são vencedoras, e todas sabem que outras batalhas precisam ser vencidas.