A média móvel de mortes por Covid-19 no Brasil na última semana chegou a 135, um aumento de 229,26% comparado com os sete dias anteriores. Entre o domingo (26) e a segunda-feira (27), o país registrou 59 mortes devido à doença, totalizando 698.993 óbitos desde o início da pandemia. Os dados são do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).
Agora, a descoberta científica de um novo remédio promete ser a solução contra formas graves da Covid-19. Chamado de Interferon lambda peguilado, o medicamento reduziu pela metade as chances de um paciente com a doença ser hospitalizado, se mostrou eficiente para anular todas as variantes do vírus e ainda pode ser mais prático e barato que outros remédios já usados.
Os resultados apareceram após ensaios clínicos de fase 3 feitos no Brasil e no Canadá, entre 2021 e 2022, e publicados neste mês na revista científica The New England Journal of Medicine, uma das mais importantes da área.
O estudo foi coordenado pelo brasileiro Gilmar Reis, professor de medicina da PUC Minas e associado da Universidade McMaster (Canadá), que vem apostando em pesquisas de medicamentos que atuam no sistema imunológico do paciente para frear a Covid, o que é uma ação diferente de outros remédios já existentes no mercado, como o Paxlovid da Pfizer.
No Brasil, mais de 30 cidades participaram do estudo, a maioria em Minas Gerais. A pesquisa foi feita com 2 mil voluntários que testaram positivo para Covid e foram atendidos na rede pública de saúde com sintomas leves a moderados – desses, 84% estavam vacinados.
No total, 931 pacientes receberam uma dose de Interferon lambda e outros 1.018 receberam placebo. A redução nas hospitalizações foi de 51% entre pacientes que receberam Interferon e estavam vacinados. Entre pacientes não vacinados, a redução de risco de morte foi de 89%
“A Covid-19 trouxe uma quebra de paradigmas no tratamento de infecções virais do trato respiratório. O vírus mostrou que hoje nós podemos combater de forma eficiente as complicações de uma infecção respiratória utilizando medicamentos que atuam no sistema imunológico e na inflamação”, disse Reis.
O professor é um dos líderes do ensaio clínico Together, que já avaliou 11 remédios diferentes em pacientes contaminados não-hospitalizados. Foi a equipe dele que ajudou a desmentir, no início da pandemia, a informação de que a hidroxicloroquina era eficaz contra a doença.
O que é o Interferon lambda?
É um medicamento experimental, sintético, desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Eiger para estudos clínicos na África contra os vírus causadores das hepatites B, C e D.
O Interferon lambda é composto por uma única injeção, aplicada na região do umbigo, e busca ‘turbinar’ a resposta imune do corpo para infecções virais por vias áreas.
“É um fármaco administrado em dose única tão eficaz quanto 30 comprimidos de Paxlovid por cinco dias em pacientes não vacinados e vacinados, independentemente da variante viral”, explicou o professor Gilmar Reis.
Aprovação esbarra na burocracia
Apesar de promissor, o Interferon lambda ainda enfrenta resistência da Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos que equivale à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil. O órgão ainda não autorizou o uso emergencial do medicamento, apesar das tentativas da farmacêutica criadora do remédio e da pressão da comunidade acadêmica.