Esta crônica é uma homenagem ao “Dia do Professor”, celebrado em 15 de outubro. Não há um só leitor, que me esteja lendo agora, que não tenha tido em sua vida a sua primeira professora. Claro, se não fosse assim, não me estariam lendo. Nunca me canso de homenagear os professores pelo seu dia, ainda que eu venha a ser rotulado de repetitivo. Paciência. É risco de quem escreve. Elogiar o Sol, a Lua, as Estrelas ou o Mar nunca é demais. Tudo que é bonito deve sempre ser cantado.
Quem não se lembra das primeiras professorinhas? Hoje chamadas pelas crianças de “tia” ou “profi”? Lembro até hoje, com nitidez cristalina, das minhas duas primeiras. Quero, porém, falar da segunda especialmente e, em o fazendo, homenageio a todos os professores. Refiro-me à “Dona Ida”. Tenho certeza de que ela gostava muito de mim. E eu a amava como se fosse a minha mãe.
Eu a conheci numa escolinha de madeira, na Rua Luís de Camões, ao lado da Igreja Santo Antônio, em Porto Alegre. Dona Ida ministrava aulas para quatro séries, do 2º ao 5º ano, simultaneamente. E ainda preparava um grupo de ex-alunos para o exame de admissão ao ginásio, que naquele tempo era obrigatório. Tudo na mesma hora, num mesmo salão. Ela tinha cerca de cinquenta anos, de origem alemã, solteira e não tinha filhos. Na verdade, todos os seus alunos eram seus filhos. Fui seu discípulo do terceiro ao quinto ano. Com ela aprendi português, matemática, geografia, história e também que eu deveria ser estudioso, trabalhador, respeitoso e honesto. O que tento ser.
Não que ela fosse moleza. Não! Quando era preciso, Dona Ida baixava o cacete em nós. “Cascudos” e puxões de orelhas eram comuns. Também era obrigada, muitas vezes, a ralhar com a turma. Aos berros! O que ela fazia ficando vermelha de braba. Gritava e nos xingava. E depois sentava à sua mesa, cobria o rosto com as mãos… E chorava. Eu me comovia muito com aquilo. Meus olhos se enchiam de lágrimas e eu chorava baixinho… Com ela. Até hoje me comovo quando lembro disso.
Quando batia para o recreio, nós saíamos em disparada para o pátio, a correr, jogar bola e brincar. Nós os meninos, não nos lembrávamos de ir ao banheiro, beber água ou comer a merenda. Só queríamos jogar bola. Assim, ao voltarmos, vínhamos agitados, suados, ofegantes e com todas as necessidades que não havíamos satisfeito. Nós a incomodávamos pedindo coisas. Ela, entre enérgica e carinhosa, administrava tudo com ternura. Parecia nossas mães; assim como ralhava, acariciava.
Para acalmar-nos, mandava que ficássemos sentados, em silêncio e com a cabeça apoiada nos braços sobre a carteira. Então ela pegava o seu violino e tocava músicas clássicas para nós. Ali eu conheci Mozart, Beethoven, Chopin e outros gênios. Alguns alunos dormiam a ponto de roncar. Será que ainda existem professores como Dona Ida? Que lecionam e tratam seus alunos com firmeza e amor? Penso que sim. É para estes que sempre rendo a minha singela homenagem. Aos demais que reflitam se estão fazendo o que gostam, porque lecionar é um sacerdócio.