Como muitos de vocês já sabem, sou Doutor Palhaço, daqueles que visita hospitais. Certa vez, durante uma visita hospitalar, fui orientado pela enfermagem que um paciente estava tomando banho. Com um dia cheio pela frente e a consciência de que cada momento conta, mentalmente excluí aquele quarto do meu roteiro. Após visitas a diversos pacientes, saí com a sensação de dever cumprido, mas, ao passar pela porta do quarto que antes tinha ignorado, notei que ela estava aberta.
Naquele momento, as paredes do hospital pareceram se encolher, e a seriedade do ambiente se dissolveu. O que poderia ter sido uma situação constrangedora virou um espetáculo cômico. A atmosfera de hipoclorito e clorexidina foi substituída pelo som de risadas. Era como se o próprio hospital estivesse rindo comigo, quebrando a rigidez do dia a dia.
O mais curioso é que, naquele momento, eu estava sem meu parceiro de visita. Normalmente, andamos em duplas, uma espécie de segurança cômica, mas, desta vez, eu estava sozinho no meu “canil” improvisado. Acabei não entrando no quarto, mas o simples ato de brincar com aquela familiar trouxe um alívio palpável.
Foi um momento de conexão genuína. O nariz vermelho e o “jogo do sim” que pratiquei à proposta daquela mulher transformaram uma situação que poderia ter sido uma tragédia em um momento de leveza e alegria.
Ao sair, pensei em como o riso pode ser um remédio poderoso, especialmente em um lugar onde as pessoas estão acostumadas a lidar com a dor e o sofrimento. Em meio ao cansaço e ao peso emocional das visitas, aquele latido teve um efeito quase terapêutico. Assim, lembrei-me de que, como doutor palhaço, minha missão é levar um pouco de alegria, mesmo que seja em forma de um latido inesperado.