O resultado do segundo turno das eleições municipais deste ano, realizado ontem, transformou a festa da democracia na festa da “monocracia”. Isto porque, os partidos de direita e de centro dominaram o cenário eleitoral de Norte a Sul do país. Dentre as capitais de Estado que tiveram segundo turno, a esquerda ganhou apenas em Fortaleza, por uma magérrima diferença de 11 mil votos, em um colégio com mais de 1,4 milhão de eleitores.
Somados o primeiro e segundo turno, a esquerda conquistou apenas 8% das 5.569 prefeituras do Brasil, a grande maioria no Nordeste do país. Mesmo em Estados onde a esquerda sempre foi forte, como em São Paulo, as urnas neste ano não corresponderam às expectativas dos candidatos que foram apoiados pelo Palácio do Planalto. A principal simbologia deste fato foi registrada na capital paulista, onde o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e do governador Tarcísio de Freitas (Rep), emplacou 60% dos votos dos paulistanos, contra 40% do deputado federal Guilherme Boulos (Psol), o que conferiu ao emedebista uma diferença nominal a seu favor de mais de 1 milhão de votos.
Em Santa Catarina não houve segundo turno onde isto era possível, pois os candidatos vencedores emplacaram mais de 50% dos votos na primeira etapa da eleição, liquidando a fatura já no último dia 6 de outubro. No Rio Grande no Sul, no entanto, cinco municípios tiveram segundo turno. O MDB, partido de centro, emplacou duas prefeituras: Porto Alegre e Caxias do Sul. O PL e o PSDB, partidos de direita, emplacaram duas também. Os liberais conquistaram Canoas e os tucanos Santa Maria. Já o PT, de esquerda, elegeu o prefeito de Pelotas. A vitória petista se deu por uma diferença de pouco mais de 1.200 votos, em um colégio eleitoral com mais de 170 mil eleitores.
No que diz respeito a acomodação das forças políticas no país a partir de 1º de janeiro, os partidos de centro, em seus diversos espectros ideológicos, assumirão 55% das prefeituras. A direita assumirá, também em seus diversos espectros, 37%, e a esquerda os já aludidos 8%. Estes percentuais dão o tom de como deverá se pautar a campanha presidencial de 2026, já que o Centrão, representado principalmente por partidos como o PSD, MDB e Progressistas elegeram a maioria dos prefeitos, e deverão querer estar, através de um de seus representantes, na principal chapa majoritária que irá enfrentar o projeto de reeleição do presidente Lula da Silva (PT), ou de outro candidato petista, caso ele abra mão de postular um novo mandato.
Ainda que tenha saída derrota das urnas neste ano, a esquerda mantém viva a esperança de dar continuidade ao projeto petista na Presidência da República. Se o vice do PT vier de um partido do Centrão, ou se o Centrão bancar candidatura própria a Presidência, independentemente da candidatura de direita que será apoiada pelo ex-presidente Bolsonaro, as chances de a esquerda vencer as eleições no segundo turno em 2026 são bastante grandes. Por outro lado, uma aliança do Centrão com Bolsonaro já no primeiro turno da eleição presidencial deixaria o PT em péssimos lençóis.
Finais
- Seguindo a mesma lógica da eleição presidencial de 2022, foi no Sul do Brasil onde a direita conquistou seus principais resultados eleitorais, elegendo mais da metade dos prefeitos que assumirão em janeiro seus mandatos. Já a esquerda, mais uma vez, teve seus melhores resultados nos Estados do Nordeste, com média de 30% das conquistas majoritárias e proporcionais. De um modo geral, no entanto, os gráficos mostram um crescimento dos partidos de centro nestas duas regiões do país, assim como no Sudeste, Centro-Oeste e Norte. Dá a impressão que o eleitor começou a cansar dos discursos extremistas, tanto da direita, quanto da esquerda, e está migrando para um posicionamento mais social democrata ao escolher seus candidatos, o que justifica o crescimento dos partidos de centro nas eleições deste ano.
- Em praticamente todos os municípios de nossa região, a reclamação dos candidatos a vereador, derrotados nas urnas no último dia 6 de outubro, não está ligada aos adversários, mas sim aos colegas do próprio partido que se sagraram vitoriosos. O fato é que com o fim das coligações proporcionais, se elegem aqueles candidatos que obtiverem mais votos dentro de seu partido. Aqueles com maior poder de fogo, primeiramente fazem uma campanha aberta, voltada à toda a sociedade, mas com a proximidade das eleições, acabam focando no voto partidário. É a partir daí que começa a carnificina, com candidatos a vereador do mesmo partido cooptando votos uns dos outros, para garantir a liderança dentro da legenda e sua consequente eleição. A grande verdade é que como bem já dizia o filósofo Thomas Hobbes, “o homem é o lobo do próprio homem”.