O dia 8 de abril de 2012 ficou marcado para mim como o dia em que me tornei uma pessoa com deficiência visual. E até hoje, não tenho uma resposta definitiva para quem me pergunta: como é viver sem enxergar?
Todo ano, tento responder da forma mais honesta possível.
Não é fácil.
Existem muitos desafios diários — tanto externos quanto crises existenciais.
Atenção: Glaucoma é uma doença silenciosa. Procure um oftalmologista pelo menos a cada seis meses.
Não é porque você virou adulto e acha que pode se cuidar sozinho que vai ignorar os médicos.
Eles estão aqui para cuidar da gente também.
Eu tinha 24 anos quando fiquei cega. Já me consultava com um especialista em glaucoma, mas, mesmo assim, aconteceu.
Minha vida mudou completamente. Nunca perguntei “por quê?”.
Na verdade, por sempre acreditar em Deus, eu sabia que Ele permitiu isso para Sua honra e glória.
E se eu pudesse enxergar hoje?
O que eu veria de diferente?
Mais tecnologia? Será que eu me assustaria com os fios brancos nascendo no meu cabelo?
E se eu não tivesse perdido a visão?
Será que eu seria essa Ana de hoje?
Conquistei tantas coisas depois de perder a visão:
Uma casa. Um marido. Escrevi um livro.
Viajei muito. Conheci pessoas incríveis.
Me aconcheguei no colo de Deus.
São inúmeras bênçãos pra contar.
São tantas coisas pra agradecer.
Não por ter ficado cega, mas por ter entendido que minhas conquistas vieram porque preservei o melhor de mim para entregar às pessoas:
Boas risadas, boas conversas, aventuras pra viver.
Como posso reclamar da vida que eu tenho, se Deus me carrega pela mão por todos os lugares onde eu vou?
E quando não vou, Ele me traz pessoas que sempre têm algo pra me ensinar.
Essa semana, além de comemorar — ou ressignificar — a data da minha perda visual, também comemorei meu aniversário, no dia 2 de abril.
Foi uma semana agitada, com direito a palestra com os casais da Comunidade Shalom. Estávamos lá, meu marido Fábio (que também é deficiente visual) e eu, sentadinhos, aprendendo juntos a alegria de servir a Deus e servir um ao outro.
Também nessa semana, ganhei um bolo de aniversário de uma amiga da Bahia. Obrigada, Tauana!
Ela também é deficiente visual.
Pude comemorar com velhos e novos amigos.
O parabéns foi lá em casa. Foi mais ou menos assim:
— “Vamos fazer um bolinho?”
Na minha vida, é tudo assim… do nada. O de repente.
De repente, virei colunista do Portal C1.
Recebi o convite um dia depois do casamento com Fábio — que, aliás, conheci de repente, em um grupo de WhatsApp onde reuni amigos cegos que me conheceram através do meu canal no YouTube, que de repente virou o Cegamente Incrível.
E o resto…
É história.
Que venha mais vida pela frente.
Que venham mais bênçãos pra contar.