Nesta quinta-feira, 26 de junho, dois homens sentam-se no banco dos réus no Fórum da Comarca de Sombrio, no Extremo Sul Catarinense. Eles são acusados de assassinar Ruan dos Santos Varela, de 20 anos, em maio de 2020, em um crime que envolve elementos de premeditação, tráfico de drogas, facções criminosas e ocultação de cadáver, na cidade de Balneário Gaivota.
O crime
Conforme denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), os acusados teriam agido de forma planejada. Um deles, segundo a investigação, se aproveitou da antiga relação de amizade com Ruan para atraí-lo, sob o pretexto de um encontro casual. A vítima foi vista pela última vez no dia 17 de maio de 2020, quando saiu de casa dizendo que visitaria um amigo.
No trajeto, ao entrar em um veículo, Ruan foi surpreendido. Armados, os acusados teriam rendido a vítima, levado-a até uma área isolada em Balneário Gaivota, forçado-a a cavar sua própria cova e, então, efetuado disparos fatais. O corpo nunca foi localizado.
A motivação do crime, segundo a Promotoria, teria sido uma dívida de aproximadamente R$ 200,00 relacionada à compra de entorpecentes. O caso é tratado como homicídio qualificado por motivo torpe e mediante dissimulação, além de ocultação de cadáver.
Depoimentos e investigação
Durante a fase de instrução, a mãe de Ruan relatou que o filho havia mencionado um velório no dia anterior ao desaparecimento e que pretendia passar na casa de um amigo. Depois disso, nunca mais foi visto. O quarto da vítima foi encontrado trancado, com documentos, roupas e dinheiro intactos — sinais de que não teria saído para uma viagem, como se cogitou inicialmente.
A última pessoa a ver Ruan contou que ele deixou seus pertences em sua casa e saiu afirmando que voltaria para jantar. Ruan teria dito que iria “fumar um” com um amigo e ainda brincou dizendo que iria dirigir o carro por não ser o amigo habilitado.
Outros depoimentos indicaram que Ruan vinha sendo ameaçado e já havia sofrido uma tentativa de homicídio anterior. Um informante relatou que ambos foram alvos de disparos efetuados por um homem armado em um carro, dias antes do desaparecimento. Ruan teria dito que o ataque estava relacionado a “coisas dele” e que o amigo “só deu azar de estar junto”.
Facções criminosas e elementos digitais
Um investigador da Polícia Civil afirmou que Ruan teria se envolvido com duas facções criminosas: uma, da qual adquiria drogas, e outra à qual pertenceriam os acusados. Ruan teria contraído uma dívida com integrantes desta última, sendo ameaçado por um dos acusados, que é conhecido por uma alcunha relacionada ao crime organizado.
Elementos telemáticos foram decisivos na denúncia: o celular de um dos acusados se conectou à rede Wi-Fi do aparelho de Ruan no dia de seu desaparecimento, o que indica proximidade entre os dispositivos. Também foram encontradas pesquisas na internet feitas a partir de um dos aparelhos sobre decomposição de cadáveres e disparos de arma de fogo.
Relatos anônimos afirmam que Ruan teria sido executado como “exemplo” para outros devedores da facção. Informações também sugerem que o corpo foi inicialmente enterrado próximo à casa de um dos acusados, mas acabou sendo movido após cachorros desenterrarem parte dos restos mortais.
Acusações e julgamento
O Ministério Público pede a condenação dos réus com base no artigo 121, § 2º, I (motivo torpe) e IV (recurso que dificultou a defesa da vítima), e artigo 211 do Código Penal (ocultação de cadáver). As defesas negam as acusações e pedem a desclassificação dos crimes, questionando as provas apresentadas.
O júri está marcado para as 9h desta quinta-feira, dia 26, e será presidido pelo juiz da Vara Criminal de Sombrio. O caso é acompanhado de perto por familiares da vítima e por órgãos de segurança, dada a ligação do crime com organizações criminosas que atuam no sul de Santa Catarina.