A exemplo do líder pacifista Martin Luther King Jr., que pregava o término da discriminação racial nos EE. UU., que dizia “I have a dream” (“Eu tenho um sonho”). Sonho de que as pessoas não fossem tratadas pela cor da sua pele. Saibas que eu também tenho um sonho: o de um dia escrever uma crônica que nos ajudasse, a mim, a ti e mais àqueles raros e pacientes leitores que me honram, vez que outra, em voltar seus olhos às minhas crônicas.
Todos nós carregamos alguma tristeza, uma preocupação ou uma recordação de algo que fizemos, mas não gostaríamos de tê-lo feito. Com muito esforço procuramos esquecer ou atenuar nossas angústias. Então, lá vamos nós fazer algo que nos distraia. Por alguns momentos conseguimos ser felizes e até darmos gostosas risadas. Mas aí, passadas essas ocasiões agradáveis, algumas até de euforia, caímos de novo na realidade dura da vida, e aquela saudade, aquela lembrança ou outro sentimento triste qualquer nos assalta na primeira esquina da vida. De novo ficamos calados, meditando e procurando esquecer.
Alguns irmãos nossos muitas vezes não conseguem administrar e aceitar a nossa fragilidade humana… Demasiadamente humana, e se deixam dominar no mais profundo estado de tristeza, melancolia, apatia e, por fim, de depressão. Afundam-se de tal maneira que não conseguem mais sair do fundo do poço, desse labirinto sem saída, nem mesmo com a ajuda de psicólogos, psiquiatras ou dos famigerados medicamentos “tarja preta”.
As religiões, de um modo geral, procuram desesperadamente ajudar seus fiéis, tentando explicar o inexplicável. Alguns, por questão de comodidade ou desespero, fingem acreditar. Outros acham que acreditam, mas não vão atrás de questionamentos maiores. E não vão por respeito ou medo do desconhecido. Ou de não encontrarem respostas. Quanto a mim, como tenho esperanças, mas não certezas, me refugio nas minhas rotas de fuga. Algumas até já sabes quais são, por me conheceres um pouco: – Meus livros, músicas, vinhos e caminhadas, onde converso com as nuvens, as plantas, os pássaros e outros animais.
A escola filosófica grega, Estoica, fundada por Zenão, propunha que o homem deve viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselhava a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao seu ser. O homem sábio deveria obedecer a lei natural, reconhecendo-se apenas como uma pequena peça da engrenagem que move a infinita ordem do Universo, devendo assim manter serenidade tanto perante as coisas ruins, como as coisas boas. Mas quem tem nervos de aço para tudo isso? Assim, tudo que eu gostaria de ter escrito hoje para ti era um texto leve e limpo, repleto de ternura, que te devolvesse as mais puras alegrias da tua infância. Mas só o que consegui foi o que tens agora em mãos. Eu precisaria te conhecer melhor… Perdoa-me.