sexta-feira, 14 DE março DE 2025
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De “Boi Bandido” a Luo Guofu: Aloísio fala da vida na China e o desejo de jogar no Criciúma

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A vida de Aloísio dos Santos Gonçalves mudou muito nos últimos anos. E não foi apenas no fuso horário entre o Brasil e a China. O catarinense encontrou no pais asiático uma nova cultura, comidas e temperos diferentes para o paladar, um idioma difícil de aprender e precisou também lidar com a saudade da família que ficou em Araraguá, no Sul de Santa Catarina, e dos amigos espalhados por Porto Alegre, Chapecó, Florianópolis e São Paulo, as cidades onde morou quando jogava no Brasil.

Em poucos meses, porém, Aloísio promete deixar tudo no passado. O atacante do Guangzhou Evergrande vai retornar ao Brasil assim que o contrato terminar – em dezembro de 2022 – e quer continuar comemorando os gols com a marca registrada: as voadoras.

Em entrevista ao ge, ele contou que o destino ainda é incerto, mas um dos desejos é vestir o preto, branco e amarelo do Criciúma. Seria o terceiro clube no estado do atleta, que deixou a Chapecoense para jogar no Figueirense em 2011 – ele também defendeu Grêmio e São Paulo no Brasil.

Aloísio está no Guangzhou Evergrande no momento — Foto: Guangzhou Evergrande

Aloísio está no Guangzhou Evergrande no momento — Foto: Guangzhou Evergrande

A proximidade da cidade tricolor com Araraguá é um dos motivos para querer jogar no estádio Heriberto Hülse, além do carinho que familiares e amigos têm pelo time carvoeiro.

– Não vou renovar mais. Isso é certo. Se eu estiver bem, correndo como estou hoje, vou querer mais um tempo no Brasil. Se não estiver, vou ter que encerrar minha carreira, pois não quero atrapalhar ninguém. Eu tenho carinho pelo São Paulo, pela Chape e pelo Criciúma. Se eu pudesse decidir e tivesse mais aquele 10% de bateria, eu acho que usaria no Criciúma – disse.

 

Aloísio escreveu um capítulo importante na carreira há quase um ano, no dia 29 de abril de 2020, ao ser convocado para seleção chinesa. Após se naturalizar, foi chamado para um período de treinos e se tornou o terceiro estrangeiro da equipe. Ele adotou a alcunha de Luo Guofu e deixou o apelido de “Boi Bandido” de lado por um tempo.

– Quando cheguei aqui, eles me chamavam de “Boi Selvagem”, porque aqui não existe “Boi Bandido”, isso só existe no Brasil, não tem tradução de “Bandido”. E na hora de escolher um nome, escolhi Luo Guofu, que pode significar aquele que enriquece o país, por exemplo, a cidade, o país…

Além do futebol e agora da Seleção, Aloísio tem outra paixão no país: a Muralha da China. Antes da pandemia, eram frequentes os passeios do catarinense em um dos monumentos mais famosos do mundo e que tem 21.196 quilômetros.

Aloísio em uma das visitas à Muralha da China — Foto: Arquivo pessoal

Aloísio em uma das visitas à Muralha da China — Foto: Arquivo pessoal

– Quando eu vim para cá, não gostava muito de viajar, mas comecei a curtir alguns lugares. O que eu preciso visitar? Na hora, quando me perguntam, eu falo que tem que ir na Muralha da China, não tem como vir na China e não ir na Muralha da China. Eu já fui umas dez vezes, é um lugar surreal, de uma energia fora do comum. Quem vier tem que ir na Muralha da China, é de uma energia surreal.

O Boi Bandido ou Luo Guofo já realizou 182 partidas oficiais no país em quatro clubes – Shandong Luneng, Hebei Fortune, Guangdong Southern Tigers e Guangzhou Evergrande – e marcou 86 gols. Aloísio conquistou a Copa da China e a Supercopa da China, ambas pelo Shandong Luneng.

Confira mais da entrevista:

 

O BRASIL
– Eu gosto do Brasil, gosto de jogar o Catarinense, o Brasileiro… Eu vim para cá em 2014 e curti demais o país. Apesar de morar nos primeiros anos em cidades não tão boas para estrangeiros, mas a estrutura dos clubes que eu trabalhei não deixaram eu voltar. Cada jogador que vem para cá vem pensando na parte financeira. O CT, os clubes, como eles tratam jogadores estrangeiros… eu acabei me apaixonando. Foi isso que me deixou oito anos aqui, fora a parte financeira.

Aloisio em atuação pela Chapecoense — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Aloisio em atuação pela Chapecoense — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

NÍVEL TÉCNICO
 Eu fui um dos primeiros daquele pessoal que veio, a gente não tinha noção para quem mandar mensagens pedindo referências. Eu vim meio que no escuro nesse pensamento. Quando eu cheguei, eu vi jogadores de qualidade, óbvio que não para jogar em grandes equipes do Brasil, mas tinham qualidade. Acabei vendo coisas que não imaginava. Agora mais ainda. Grandes jogadores já estiveram aqui na China.

CULINÁRIA LOCAL
– Eu gosto bastante de comida japonesa e italiana. No começo foi bem complicado, nos dois primeiros anos foi dificil. Eu morei numa cidade que não tinha bons restaurantes italianos. Depois comecei a procurar, pesquisar. Aquele lá em Xangai tem o feijao brasileiro, aí mandava mensagem pedindo uns dois quilos de feijão. Aquele outro vende carne da Austrália, aí pedia picanha para a gente fazer o churrasco. Agora tiro de letra. Aqui na esquina de casa tem um restaurante que a gente encontra muitas comidas brasileiras e fazemos muitas coisas pelo telefone.

IDIOMA LOCAL
– Acredita que eu não sei falar ainda? Virei chinês e falo bem pouco. Eu entendo mais do que eu falo. Desde o começo eu tive um tradutor dentro e fora do campo. Eu aprendi outras línguas. Eu sempre tive tradutor e, infelizmente, não falo fluentemente. Aprendi outras linguas, mas o chinês não.

MORRO DOS CONVENTOS
– Gosto bastante. Não vou comprar todo o Morro dos Conventos (risos). Eu gosto muito, tenho casa lá. Sempre nas férias pego um avião, vou para o Morro e só saio de lá no fim das férias. Eu amo Araranguá. O pessoal que está nos assistindo e quiser um lugar bonito, pode ir para o Morro dos Conventos que eu garanto.

AMIZADE COM HÉLDER (DO CRICIÚMA)
– Eu brinco sempre com ele. Jogamos juntos no Grêmio e no Figueirense. Fiquei muito feliz quando ele anunciou que ia jogar no Criciúma. Ele tem muita qualidade, e eu sempre quero que bons jogadores joguem no Criciúma. Essa é uma brincadeira que eu faço. Ele já fez vários cruzamentos para eu fazer o gol, eu sei onde ele cruza. Eu não vou falar aqui, pois quando a gente jogar junto de novo o pessoal vai marcar (risos).

Aloísio e Hélder juntos no Figueirense — Foto: Figueirense/Divulgação

Aloísio e Hélder juntos no Figueirense — Foto: Figueirense/Divulgação

O FUTURO
– Quando eu era pequeno, pedia a Deus para passar de ano no colégio, ser um jogador profissional e saúde para a minha familia. Tinha mais alguma coisa, mas não lembro agora. Passar de ano foi ali riscando, quase no limite. Saúde para familia… todos têm saúde. E como jogador profissional eu consegui, Deus me ajudou e me abençoou. Tive oportunidades de jogar em grandes clubes. Mas, como a gente sabe, está quase na hora de parar. Eu vou deixar essa resposta que se for no Criciúma, vai ser um desejo meu (o último clube). Apesar de eu ter um carinho muito grande pela Chape, Criciúma é do lado de Araranguá e seria muito legal jogar no Criciúma.

ALOÍSIO CHINÊS
– Eu fui convocado para amistosos. Jogo oficial não fui convocado por conta da pandemia. Vai começar em maio os jogos da Seleção para Copa do Mundo de 2022. Espero, se eu estiver fazendo um bom trabalho aqui, ser convocado. Está tudo regularizado, tenho passaporte, já virei chinês. Agora é só trabalhar.

AS VOADORAS
– O negócio do Muricy foi legal. A gente estava numa fase muito ruim (no São Paulo). Quando ele chegou, ele deu um ânimo a mais para o nosso time. Os outros treinadores tentaram e não conseguiram. Ele trabalhou conosco e, na hora das comemorações, a gente lembrava dele. Ele era daquele jeito bravo e tudo, mas com a gente sempre foi um paizão e me ajudou muito. Sempre puxava ele, mas depois pedia desculpas. O velhinho está todo quebrado (risos).

Aloisio dá voadora em Muricy pelo São Paulo — Foto: Edson Ruiz/Agência Estado

Aloisio dá voadora em Muricy pelo São Paulo — Foto: Edson Ruiz/Agência Estado

SAUDADES DE CASA?
– Eu sinto demais. Como é longe, a gente vai uma vez por ano, nas férias de novembro e dezembro. Eu sinto saudade de algumas coisas: família, amigos, minha casa no Morro dos Conventos… O resto a gente tem tudo aqui.

CABELO
– Faz uns dois anos que estou deixando crescer. Eu não gosto de ir no salão, até porque tem explicar e, às vezes, eles não fazem ideia do que a gente pediu. Aí corto no Brasil. Eu vou cuidando e ficou desse jeito que vocês tão vendo.

(Fonte: Globo Esporte)

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