Na dança, o hip hop se manifesta através de uma variedade de estilos e formas. Para muitos dançarinos, o estilo não é apenas uma forma de entretenimento, mas também é amor, luta e família. É uma forma de contar histórias, expressar emoções e conectar-se com a comunidade.
Em Jaraguá do Sul e região, o nome de Nícolas Liebl D’Anhaia já é famoso na cena hip hop. Agora, o talento do jovem de 23 anos vai além das fronteiras juntamente com o grupo de dança Kulture Kaos, que vai representar o Brasil no World Hip Hop Dance Championship. O evento vai ocorrer em Phoenix, nos Estados Unidos, entre 3 e 10 de agosto.
Nicolas define o hip hop como muito mais que apenas um gênero musical. É um estilo de vida, onde união, respeito, resiliência e resistência são pilares fundamentais. Para ele, os dançarinos formam uma família unida por uma causa maior, lutando juntos pelo que acreditam.
“O hip hop é influenciador de vidas e indicador de bons caminhos a se seguir. Minhas expectativas são que cada vez mais consigamos mostrar nossa força através do nosso amor demonstrado por meio da arte e assim gerar oportunidades para todos”, resume o artista.
Superação de limites através da dança
Natural de Rio Negrinho, Nicolas mora em Jaraguá do Sul há 19 anos, desde 2004. Ele conta que esteve imerso no mundo da dança desde o ventre da mãe, que se apresentava na igreja.
A família vivia uma realidade humilde e passou por dificuldades financeiras ao se mudar para Jaraguá. Assim, os pais não tinham condições de pagar aulas de dança para o filho.
“Meus primeiros contatos com hip hop foram através de clipes de música, filmes e livros. Desde pequeno escuto muito Racionais MC ‘s, Chris Brown, Usher, Ne-Yo, Akon, Pregador Luo, entre outros que me influenciaram a aprender um pouco mais sobre a cultura e arriscar os primeiros passos”, relembra o dançarino.
Foi em 2008, na escola Maria Nilda Salai Stähein, que a dança apareceu de vez na vida do pequeno Nicolas. O primeiro contato direto veio através do projeto Dentro da Dança da Scar, quando inicialmente ele foi encaminhado para aulas de acrobacia aérea com a professora Tamy Louize Secco, onde aprendeu muito sobre consciência corporal.
Anos depois, entre 2011 e 2012, Nicolas foi observado pela professora Stela Liss, que na época dava aula de danças urbanas na Scar e o ofereceu uma bolsa de estudos para participar da primeira formação do Studio Liss e fazer aulas de Jazz na Casa da Cultura de Guaramirim.
“Em 2012 também tive a oportunidade de conhecer o B.Boy Oseas – K12, amigo da Stela na época, que também me apadrinhou e me ensinou meus primeiros passos do Breaking Dance, me convidando para participar da primeira formação da Quilombo Funk Crew, a B.Boys da praça”, conta.
O ano de 2013 foi um ponto de virada na vida do dançarino. Junto ao Quilombo Funk Crew e ao Liss Studio de Dança, ele embarcou em suas primeiras competições, tanto em festivais quanto em batalhas, espalhadas por Jaraguá do Sul e várias outras cidades da região.
Nos anos seguintes, Nicolas acumulou vitórias e reconhecimento em várias competições e festivais nacionais e internacionais. No meio da jornada, ele teve que se afastar temporariamente da dança para buscar oportunidades de trabalho e sustentar seu sonho, mas retornou com força total em 2019, participando de inúmeros festivais e conquistando títulos.
Ele ainda conseguiu reservar um tempo para concluir a formação em Design no Centro Universitário – Católica de Santa Catarina, onde durante o curso teve seu primeiro contato com as latas de spray e conheceu mais um elemento do hip hop, o Grafite. Desde então, Nicolas participou como jurado em diversas batalhas de danças urbanas, além de ministrar projetos e workshops em escolas, no decorrer de 2022 e 2023.
O Festival de Dança de Joinville de 2023 marcou o retorno de Nicolas para a dança. Ele conta que planejava apenas assistir às batalhas e prestigiar o evento como telespectador, porém retornou para casa com o segundo lugar da Batalha All Style do festival de dança que é considerado o maior do mundo.
Esse feito não só reacendeu sua paixão pela dança, mas também abriu portas para novas oportunidades. Logo após isso, Nicolas passou a fazer parte do Grupo de Danças Urbanas Scar, através do convite do Coreógrafo Kako Zapelini, além de retornar para o Quilombo Funk Crew.
Kulture Kaos no Mundial de hip hop
Em janeiro de 2024, o Kulture Kaos entrou na trajetória do jaraguaense. O grupo foi criado em 2016 com o intuito de ampliar o cenário das danças urbanas em Joinville, trazendo estilos não muito explorados na cidade, fomentando para que os praticantes da modalidade possam evoluir e crescer profissionalmente.
“Fui convocado pelo diretor e coreógrafo do Kulture Kaos, Bruno Soares, a fazer parte da Seleção Brasileira”, explica Nicolas. Composto por nove integrantes com muito foco e garra, o grupo se desenvolveu para atingir o degrau mais alto dentro do Brasil e compor a delegação da Seleção Brasileira de Hip Hop.
“Me sinto privilegiado ao receber a honra de fazer parte desse momento de um grupo que já fez tanto pelo hip hop local e hoje poder chamar eles de família também. Fazer parte da seleção brasileira para mim é uma mistura de sentimentos, porém também um gosto de dever completo. É a realização de um sonho que vem sendo plantado há 11 anos”, complementa o dançarino.
O World Hip Hop Dance Championship é um dos eventos promovidos pelo Hip Hop International. Esta é a competição mundial de danças urbanas e conta com seleções de 54 países, todos com o intuito de buscar o ouro para sua nação, competindo no mais alto nível com os melhores do mundo. Além da competição, o evento também conta com workshops de grandes nomes para a capacitação dos atletas e participantes.
Além da competição, Nicolas está ansioso para gerar network, conhecer novas culturas e lugares. O atleta utiliza a frase “Jamais volte pra sua quebrada de mão e mente vazia”, do rapper brasileiro Emicida, para expressar em poucas palavras o que deseja com a experiência.
O evento vai ocorrer em Phoenix, no Arizona, Estados Unidos, entre os dias 3 e 10 de agosto de 2024. O elenco garantiu a vaga através de uma seletiva que aconteceu em Santos (SP). Nicolas ressalta que o Brasil não possui uma confederação Brasileira de hip hop ou instituição especializada na modalidade, que poderia ajudar com os custos da viagem.
Conforme o dançarino, o custo por participante fica em torno de R$ 6 mil. “Sabendo do alto custo para representar o Brasil nos Estados Unidos, estamos à procura de patrocinadores e apoiadores, para que seja possível ter um representante do Brasil no campeonato mundial”, explica.
Nicolas ressalta que ter uma carreira no hip hop pode ser difícil financeiramente, especialmente para artistas independentes. Preconceito, baixa visibilidade, falta de aceitação, falta de remuneração adequada e poucas oportunidades são algumas das principais lutas destes artistas.
Como ajudar
De acordo com Nicolas, qualquer ajuda financeira ou outras parcerias serão bem vindas para ajudar na viagem do grupo até o local da competição. Custos como passagens, hospedagem e alimentação entram na conta.
Contatos do grupo:
- (47) 9 92752551
- Instagram: @kulturekaos
- email: brunosoareskkds@gmail.com
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