Escrever um artigo sobre voltar a ver não seria tão inesperado. Nunca imaginei poder responder a tantas dúvidas que chegaram nessas últimas semanas, através das redes sociais, por conta de encontrarem meus vídeos no YouTube e me verem presente aqui no portal.
Então, vamos começar o ano falando sobre isso e respondendo a uma dúvida de uma seguidora. Ela perguntou se, com o avanço das inteligências artificiais, eu poderia voltar a ver.
Nesse primeiro momento, posso dizer que eu adoraria voltar a ver. Dizer que não sinto saudade de ver as pessoas queridas da minha vida, meu marido, que também é deficiente visual, e os novos amigos que fiz depois da perda da visão, não seria verdade. Muitos estudos e técnicas estão em fases experimentais. Há supostos protótipos de implantes neurais que estimulam partes do cérebro para que a visão dos deficientes seja restaurada. Mas tudo depende do tipo de deficiência. No meu caso, em que o nervo óptico foi lesionado devido ao glaucoma não diagnosticado a tempo, o processo é um pouco diferente.
Há estudos sobre microimplantes para simular ou fazer pequenos desvios no nervo óptico, de forma que a visão seja, em um primeiro momento, ativada em camadas de cores. É como se parte do fio da tomada da televisão estivesse corrompida e alguém fizesse um reparo. É claro que muitas dessas pesquisas e experimentos estão fora do alcance de nós, brasileiros, apesar de cientistas estarem analisando essa possibilidade em parceria com outros países.
E como saber se existe algo que possa, de fato, fazer um cego voltar a enxergar? É recomendado que, mesmo sendo cego, o deficiente visual continue tendo consultas periódicas para acompanhar a saúde dos olhos. Ter uma conversa aberta com seu oftalmologista sobre a vontade de participar de pesquisas e voluntariados também é uma possibilidade. E, além de tudo isso, é essencial não nos tornarmos reféns do que aparece em links suspeitos na internet. Buscar fontes confiáveis é fundamental para pesquisas não somente sobre deficiência visual, mas sobre qualquer tipo de curiosidade que você tenha.
Enquanto a realidade de voltar a ver para muitos deficientes visuais ainda é inconclusiva, saibamos respeitar cada processo. Acreditemos que, se não podemos mudar o mundo onde estamos, ao menos sejamos melhores para com o próximo.