A Ana de hoje olha para a Ana do passado e a cena que me vem é de quando liguei o computador pela primeira vez, dois anos após perder a visão. Quantos medos! Tinha medo de enfrentar o computador, que era tão cotidiano para mim, ou medo de dar certo? A incerteza do amanhã me assombrava. Pensava: E se aprender o básico e nunca mais evoluir? Quantos e-mails me esperavam? Quantas oportunidades perdi? Será que ainda se lembram de mim?
Quero começar dizendo que só temos o hoje. Como posso ser melhor para mim e para o mundo hoje? Sim, a vida não se resume em ganhos, mas todo conhecimento deve ser compartilhado.
Perdi a visão em abril de 2012 e, seis meses depois, já estava viajando sozinha para São Paulo. Mas levei dois anos para ligar o computador.
Dias antes de me entregar a esse novo mundo, instalei o NVDA, um leitor de tela. Ele usa o sintetizador do Windows para ler tudo o que está na tela. Cada letra digitada, ele soletra no meu fone. Com comandos simples, como barra de espaço, tab e enter, consigo me conectar ao mundo visual. Posso escrever meus pensamentos e compartilhar com o mundo que a vida continua.
E se não tivesse ligado o computador? O medo de dar certo impede muitas pessoas de usar os dons que receberam. Seja em uma postagem nas redes sociais ou em uma conversa com alguém que ama, no final do dia a pergunta é: O que entreguei ao mundo? A quem dei o meu melhor?
Não se deixe paralisar pelo medo. Apenas sinta-o. Assim como dia, ele se vai.