Sempre que volto ao meu amado Sul para mais uma visita, procuro me reconectar com pelo menos uns dois ou mais amigos, tanto da minha infância quanto adolescência ou juventude. Numa dessas vezes, meu cunhado Vinícius, na Santa Rosa do Sul, me alertou para um amigo de infância que estava sempre num bar próximo a sua casa. Religiosamente, todos os dias.
Este amigo, outrora criança quieta e atenta na sala de aula, foi meu colega nos primeiros anos na minha primeira escola. Quando mudamos de Praia Grande para Sombrio, perdi contatos com muitos desses colegas, porém este, tive orgulho de rever muitas vezes, vestindo com respeito a farda da polícia militar.
Eu queria encontrar um tempo para falar com ele naquele bar e tentar entender o “porquê” seu precioso tempo era desperdiçado entre um copo e outro. Porém, na correria para rever minha enorme família, amigos e lugares, eu passava pelo tal bar e apenas acenava com a mão.
Na última vez, decidi então parar o carro e caminhar até ele. Não éramos tão próximos e talvez por isso nada questionei. “Ah, quem sabe na próxima”, pensei.
Infelizmente não houve “uma próxima vez”. De um copo a outro, seu fígado não resistiu. Então, paira agora aquela dúvida no ar, daquela pergunta não feita. “Qual o seu propósito de vida?” Será que foi isso? Será que meu colega havia perdido o sentido de viver? Quantos outros encontraremos por aí, de copo em copo, de bar em bar, sem direção ou motivação?
Não sei se tudo começou com a falsa imagem apresentada pela televisão, nas novelas da Globo, mas o fato é que em um determinado momento da vida, descobri que a ideia de felicidade não era a mesma de meus amigos mais próximos. Enquanto buscarmos a felicidade em pessoas e em coisas, não encontraremos o verdadeiro sentido da vida. Por isso, é imprescindível que façamos uma auto reflexão no intuito de identificar o nosso propósito de vida.
Mas, o que é mesmo ter um propósito de vida? Em seu livro “Find Your Why” (Encontre o Seu Porquê), Simon Sinek faz um comentário que me fez refletir sobre isso: “A felicidade vem do que fazemos. A realização vem do porque fazemos”. Mas como encontrar o PORQUÊ?
Eu não sei você, mas eu descobri o meu porquê faz tempo. Todos nós temos um propósito de vida, mas muitas pessoas levam mais tempo a descobrir. Se você sabe o seu propósito, parabéns!
Quando encontramos o nosso propósito, descobrimos uma força maior que nos impulsiona avante. Portanto, não haverá tempo difícil ou condições climáticas que nos impedirão de seguir em frente. Ao lavar o rosto e escovar os dentes pela manhã, a imagem refletida no espelho deve ser aquela que nos motiva ainda que as notícias no mundo tentem nos desencorajar.
Ter um propósito é ter uma meta ou uma missão. É saber que seus valores e paixões podem impactar o mundo de forma positiva, ainda que somente a sua volta.
Quando você descobre o seu propósito de vida, você não tem tempo para pensar em tédio ou solidão. O seu espaço vago é preenchido de ações, como o motor de um carro em movimento numa pista de corrida. Você se alimenta da sua motivação pessoal porque seu alvo é atingir os seus objetivos mesmo diante de desafios que possam aparecer depois da curva.
Quando era menina na minha amada Cachoeira, eu queria ser líder de classe, mas nunca ganhei um voto de minha turma. Aprendi mais tarde que os líderes escolhidos na época, não eram por competência, mas porque eram os mais fáceis de serem manipulados. À medida que me dediquei com paixão num simples trabalho numa loja BK aqui nos EUA, fui vista pelos meus superiores e então inspirada a uma posição de liderança. Hoje, com mais de 20 anos não somente de liderança, mas desenvolvendo líderes para a companhia, me sinto realizada em meu propósito, continuando a lapidar o meu conhecimento no intuito de impactar positivamente a minha equipe.
Sempre detestei trabalhar em ambientes tóxicos, poluídos pela falta de caráter de certas pessoas que confundem competência com competição. As palavras podem até ter uma escrita semelhante, mas seus significados são bem distintos. Aos 17 anos de idade, em Sombrio/SC trabalhei num desses ambientes, no departamento de Recursos Humanos de uma fábrica de calçados. Cada vez que abria a porta de um determinado departamento para levar uma carteira de trabalho ou um outro documento, era como se eu entrasse num ninho de cobras. Era frustrante ver como certos seres humanos vivem de mesquinharias com o intuito de puxar o tapete dos outros. “Quem vê cara não vê coração”. Oh frase tão certa!
Graças ao bom Pai encontrei o mesmo trabalho em uma outra fábrica de calçados menor, mas com pessoas de carácter incrível que me fizeram acreditar no meu potencial. Tivera eu ficado por ali, não creio que teria crescido tanto como pessoa quanto profissionalmente. Na época a picada doeu, mas o veneno da cobra não permaneceu em mim.
Acho que pelo contrário, encontrei o antídoto para tal. Descobri que posso influenciar na criação de um ambiente de trabalho livre de tais toxinas. E foi então, que alinhando as minhas escolhas aos meus valores, encontrei uma maior realização e satisfação.
Quando me perguntam o que me difere dos demais líderes, digo com toda a convicção: o meu propósito de vida! Ao criar um ambiente no qual as pessoas sob minha responsabilidade sintam-se como parte de algo maior do que elas, como descreve Simon em seu livro, eu descobri que posso transformar o mundo à minha volta.
Se o meu propósito é impactar positivamente, primeiro eu preciso criar uma cultura onde todos trabalhem com dignidade e respeito. Eles não trabalham de mãos dadas, mas precisam dar a mão uns aos outros para que juntos consigam atingir a meta da empresa. O ideal não é um trabalho individual, mas um propósito que nos leva a entender que somente juntos, conquistamos melhores resultados.
Hoje o meu propósito de vida, não somente impacta a minha equipe transformando a atmosfera mais feliz e motivadora, mas também impacta a clientela. Descobri que não posso mudar o mundo, mas quando inspiro minha equipe a fazer melhor, aumentamos os lucros promovendo um ambiente onde a clientela se sente feliz e respeitada. Uma clientela feliz impacta positivamente a sociedade à sua volta.
Se você já descobriu o seu propósito de vida, parabéns! Você sabe que faz a diferença no mundo. Se ainda não descobriu, busque o porquê. Tire um tempo só seu e analise os seus valores e a sua paixão. O que faz você acordar todos os dias? Olhe-se no espelho logo que levantar. Qual a imagem você vê e o que ela pode acrescentar ao mundo?
Assim como meu colega de infância, talvez você conheça alguém que esteja precisando de um impulso na vida para encontrar seu propósito. O que você pode fazer por alguém hoje que lhe traga um sentimento de gratidão?
E por último, aquelas duas perguntas tão estranhas, mas que tocam fundo na nossa consciência: “se você morrer hoje, que legado você deixa ao mundo ou às pessoas que você ama?” e “o que as pessoas falarão de você no seu velório?”.
A vida pode ser cheia de obstáculos e incertezas, mas quando temos um objetivo ou um propósito, tudo faz mais sentido. Vamos lá, então? Encontre já o seu porquê!
