Debate presidencial realizado ontem à noite pela Band TV, e outros veículos de comunicação associados, mostrou, novamente, que o povo brasileiro não pode esperar muito de seus candidatos ao Palácio do Planalto, quando o assunto são as propostas para o país. Em quase duas horas de programa, praticamente nada foi proposto à Nação. Basicamente, o debate se resumiu a uma eterna lavação de roupa suja, trocas cruzadas de acusações, e tudo mais do gênero, o que, aliás, parece já ter virado praxe. Nem o presidente Jair Bolsonaro (PL), nem o ex-presidente Lula da Silva (PT) se dignaram a fazer proposições reais, palpáveis, ou no mínimo traçar uma linha norteadora de suas possíveis futuras gestões, à fora as questões ideológicas.
O que sobrou foi a eterna troca de farpas, e, neste sentido, Lula acabou perdendo feio para Bolsonaro. O petista é um exímio orador. Se sai bem nas entrevistas, nos comícios, tem uma linha de raciocínio bastante clara e consegue se expressar com muita facilidade, muito mais que Bolsonaro. Todavia, nos debates ele perde o controle emocional. Pressionado por um adversário direto, Lula não consegue manter o equilíbrio e se deixa levar. O petista chegou ao ponto de deixar Bolsonaro falar sozinho por mais de cinco minutos durante o debate, pois já havia utilizado todo o tempo que lhe cabia, em grande parte meramente com retóricas.
Se a disputa estivesse empatada e a vitória dependesse do debate de ontem, com certeza Bolsonaro venceria a eleição, pois foi ele quem conseguiu manter maior sobriedade sobre os temas debatidos, sendo bem mais assertivo e mesmos redundante. Fosse uma luta de boxe, teria ganho por pontos, mas não por nocaute.
O grande problema de Lula é que ele é traído pela própria consciência. As alfinetadas de Bolsonaro em relação aos escândalos da Petrobrás, por exemplo, desequilibram o ex-presidente, porque ele sabe que sua gestão e a da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) erraram no que diz respeito a gestão da estatal. Por mais irônico que isto possa parecer, o fato é que é muito bom saber que Lula têm consciência dos erros e se abala com eles, prova de que não permitirá que os mesmos se repitam, em um eventual futuro governo seu.
Bolsonaro, por sua vez, é militar e tem mais facilidade em manter o controle, quando quer. O grande problema do atual presidente é que, afora os debates, na maioria das vezes ele não faz nenhuma questão de ser ponderado, o que lhe render a fama de grosseiro e mal educado.
Questões ideológicas serão base da reta final
Pelo debate de ontem capitaneado pela Band TV ficou bastante claro que estas últimas duas semanas de campanha eleitoral, com vistas à Presidência da República, deverão ser bastante pautadas pelas questões ideológicas. De um lado os conceitos da direita, defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), de outro os conceitos da social-democracia, e da esquerda, defendidos por Lula da Silva (PT). Para não inflamar os ânimos da classe média, o PT deverá amenizar a defesa de temas como o aborto, a legalização da maconha e também a defesa de direitos das chamadas minorias. Ressaltar tais temas é desnecessário neste momento, e só servem para aumentar os esforços dos bolsonaristas contra Lula.
Em SC candidatos evitam debate no segundo turno
Aqui em Santa Catarina, os candidatos ao governo do Estado neste segundo turno, Jorginho Mello (PL) e Décio Lima (PT), solicitaram a Acaert, que é a Associação Catarinense de Emissoras de Rádio e Televisão, que suspendesse o debate entre ambos, que estava agendado para o próximo dia 25. Os dois candidatos preferiram ser sabatinados, individualmente, por jornalistas da Associação. As sabatinas serão editadas e estarão a disposição das rádios e TVs do Estado a partido do próximo dia 20. Nitidamente, tanto Jorginho quanto Décio parecem preferir se dedicar mais às campanhas federais, envolvendo Bolsonaro e Lula, do que a que está acontecendo no Estado, cujo resultado, aparentemente, já está definido.