Na frente da janela do meu escritório tem um pé de “Pau-brasil”. Ele reina imponente, consciente da sua nobreza e da sua tradição histórica. Não esconde sua vaidade pelo fato de ter emprestado o seu nome para um dos maiores países da Terra. Eu disse reina, porque em torno dele existem dezenas de outras plantas; arbustos e flores. O meu conhecimento científico a respeito da flora só me permite identificar uma ou outra espécie, dentre elas uma eu conheço bem, desde criança; a “Espada-de-são-jorge”.
A respeito da “Espada de São Jorge”, lembro-me de que, quando vim olhar a casa para comprá-la, a proprietária disse-me que ela mesma as havia plantado. Muito circunspecta, a referida senhora sussurrou-me ao ouvido que eu devia deixá-las ali, pois, mesmo não sendo bonitas, eram muito boas contra “mau-olhado”. Pensei comigo: – Mas que diabo! Por que alguém haveria de ter inveja de mim? Ou me querer mal? Mas, como dizem os espanhóis: “Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay”! Sou filho de espanhol mantive-as ali. Até hoje.
Depois desse ligeiro comentário sobre a flora do meu jardim, passo à fauna. É claro que onde têm plantas têm bichos. De maneira que, ali à minha frente, desfilam diariamente pequenos insetos, gatos, cachorros e outros animais, de vários tamanhos e tipos. Os que mais me encantam são os pássaros. Seus voos, acrobacias, cantos e alaridos que fazem quando se assanham me obrigam a parar o que estou fazendo para admirá-los. Eles me fascinam. Minha imaginação voa.
A espécie que eu mais admiro são os beija-flores. Um dia comentei com a minha mulher a respeito da beleza e da delicadeza deles. Então ela me surpreendeu com um presente. Vejas, leitor, como um presente simples pode fazer uma pessoa feliz. Deu-me um bebedouro d’água para pássaros. No caso para os beija-flores. Um recipiente de plástico transparente, com um telhadozinho vermelho e, em sua base, três flores coloridas. No centro dessas flores tem um orifício pelo qual os colibris introduzem o bico para sorver o seu conteúdo. Penduram-se em algum galho de árvore ou ficam parados no ar para beber. É sublime.
Eu envolvido com computador, telefone, livros, processos e conflitos humanos, encontrei no balé dos beija-flores um bálsamo para as mazelas da vida. Notei que só o beija-flor consegue ficar parado, suspenso, no ar. Outros pássaros, coitados, tentam mas não conseguem. Fiquei refletindo que nós humanos também somos assim; às vezes queremos imitar pessoas que têm melhores habilidades e não conseguimos, porque não as temos. Refleti que precisamos ser humildes. Conformarmo-nos em ser como cada um de nós é. Uma individualidade. Diferentes uns dos outros. E procurar ser feliz exatamente como somos.