Sandra mora em Porto Alegre. É estudante de Direito e tem namorado. Rafael é de Florianópolis. Advogado recém-formado. Ambos são solteiros. Por um desses desígnios do destino vieram passar o Carnaval em Balneário Gaivota. Ela veio só, hospedando-se na casa dos avós. Os namoros de hoje em dia são superficiais. É um tal de azarar e rolos sem fim. Importa que são felizes. São relações curtas, com imediatas trocas de carícias, ousadas, e a relação sexual não demora acontecer. Muita camisinha e pouco sentimento.
A vida, porém, nos apronta armadilhas. Estava todo o mundo a fim de todo o mundo. Todos se querendo. Na primeira troca de olhares entre Sandra e Rafael, um cometa despencou no Céu. Uma inexplicável atração mística e recíproca aconteceu. Sentiram uma estranha emoção. A aproximação entre eles foi instantânea. Já o contato físico não foi como se dá hoje em dia. Não partiram de cara para carícias mais ousadas. Ficaram próximos, mas sem se tocarem. Trocavam olhares e sorriam. Até por nada. Já de início trataram-se de forma cortês e delicada, o que lhes causou um certo espanto.
Permaneciam o tempo todo um ao lado do outro. Davam atenção a todos, porém, mais entre si. Dançaram, cantaram, brincaram e beberam com os demais. Na madrugada, ele foi levá-la em casa. Chegando lá, despediram-se com os costumeiros dois beijinhos e um caloroso e demorado abraço.
No dia seguinte bem cedo já estavam na praia. Ela falou-lhe do namorado. Ele baixou a cabeça e ouviu em silêncio. Começaram a se conhecer melhor, falando de trabalho, estudos, poesia, literatura, músicas e filosofia. Como namoro de crianças, já se davam as mãos. Sentiam o hálito e o calor de seus corpos. Ali, na areia, aconteceu o primeiro beijo. Quente, doce e molhado. Um intenso entrosamento emocional e uma sintonia harmoniosa envolveu a ambos. Tudo com muita ternura. No terceiro dia fizeram amor.
O Carnaval acabou. Quarta-feira de manhã foram despedir-se à beira-mar. Cada um seguiria o seu próprio destino. Será? O futuro era incerto. Foram tantas as lágrimas derramadas que até o mar lhes invejou. O Céu também chorou. Uma forte chuva desabou sobre ambos. Suas bocas e línguas não se desgrudavam, banhadas de água, saliva e lágrimas. Um abraço fundiu seus corpos num só. A vida às vezes nos laça numa armadilha inesperada. O espaço e o tempo que separam duas almas que se amam são do exato tamanho do infinito do Universo.