A Polícia Federal concluiu que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), integraram uma organização criminosa criada para comandar ações clandestinas de espionagem contra opositores, utilizando indevidamente a estrutura da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
As conclusões constam no relatório final da investigação conhecida como “Abin Paralela”, entregue ontem (18) ao Supremo Tribunal Federal (STF). No documento, que teve o sigilo retirado nesta quarta-feira (19) pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, a PF indiciou cerca de 30 pessoas, incluindo Carlos Bolsonaro.
O ex-presidente Jair Bolsonaro não foi formalmente indiciado neste inquérito específico, pois já responde judicialmente por fatos relacionados ao uso ilegal da Abin no processo da chamada “trama golpista”, que tramita no STF.
De acordo com os investigadores, o grupo usou a agência de inteligência como instrumento político para monitorar adversários, espalhar desinformação e tentar influenciar o resultado das eleições presidenciais de 2022. Entre os alvos do monitoramento ilegal estão o próprio ministro Alexandre de Moraes, os ex-deputados Jean Wyllys, Rodrigo Maia e Joice Hasselmann, o ex-governador João Doria e os jornalistas Leandro Demori e Mônica Bergamo.
A PF afirma que Jair Bolsonaro foi o principal beneficiado pelas ações clandestinas. “Jair Messias Bolsonaro figura como o principal destinatário do produto das ações clandestinas e da instrumentalização da Abin”, aponta o relatório.
A apuração revela ainda que a estrutura operava sob o comando do então diretor da Abin, Alexandre Ramagem, atualmente réu por sua suposta participação na tentativa de golpe de Estado. Segundo a PF, as ações ilegais eram conduzidas com o uso de policiais federais e servidores de confiança, além da aplicação indevida do sistema de monitoramento FirstMile.
Atual cúpula da Abin também é alvo
O relatório também imputa responsabilidade à atual gestão da Abin. O diretor-geral Luiz Fernando Corrêa e o corregedor José Fernando Moraes Chuy foram indiciados por suposta tentativa de obstrução das investigações. A PF aponta que esse grupo teria dificultado o andamento da apuração por meio da retenção de provas, omissão de informações e tentativas de descredibilizar a ex-corregedora da agência.
“Este núcleo atuou para dificultar as investigações sobre a ORCRIM da gestão anterior, por meio de estratégias conjuntas com investigados, recalcitrância na entrega de provas (logs), ações para assediar e desacreditar a ex-corregedora, omissão sobre operações ilegais e potencial manipulação de informações e procedimentos internos”, conclui o relatório.
Próximos passos
Com o encerramento do inquérito, o ministro Alexandre de Moraes encaminhará o relatório à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se oferece nova denúncia contra os indiciados ou se os fatos serão incorporados às ações penais já em andamento sobre a tentativa de golpe de Estado.
Reação da defesa
Carlos Bolsonaro, ao comentar seu indiciamento nas redes sociais, afirmou que a medida tem motivações políticas e insinuou ligação com as eleições de 2026.
“Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, escreveu o vereador.
A defesa de Jair Bolsonaro ainda não se pronunciou oficialmente sobre o conteúdo do relatório divulgado nesta quarta-feira.