Ela chegou assim, de mansinho e com um sorriso brilhante que se estampava no seu olhar. Ninguém conseguia imaginar que por dentro, seu mundo ainda estava partido e os olhos agora ostentavam firmeza ao invés de lágrimas. Ela me perguntou se eu precisava de ajuda, uma vez que ela chegara mais cedo ao trabalho.

Entrevista com o cantor e compositor Marcelo Camelo (2000) quando estava à frente da banda Los Hermanos, disparando nas paradas de sucesso com a música Ana Júlia.
Foi assim que conheci Nadia. Mulher serena e de sorriso aberto. Ela havia deixado Nova Iorque para trás na busca de um propósito: encontrar um filho que havia perdido contato. De pé, enquanto aguardava uma resposta minha, contou-me um pouco da sua recente história de desafios e decepções. Reencontrou o filho e perdeu o marido em um divórcio inesperado. Será? Nem tanto. Nos últimos quatros anos ele vinha gastando mais do que tinha, causando um problema sério entre eles.
“Boundaries”! Como já mencionei antes, os limites precisam ser colocados logo no início de qualquer tipo de relacionamento para que os conflitos sejam mais facilmente resolvidos.
Conheci muitas mulheres como Nadia, que apostaram tudo num relacionamento falido. Mas não conheci tamanha disposição em recomeçar sozinha. Algumas pessoas levam anos para superar a separação e decepções. O divórcio de Nadia era recente, mas ela procurava formas de não se deixar abalar. Disciplina mental! Inteligência emocional! Mulher de fibra e confiante na sua fé. A mulher assim acredita que às vezes, “o perder tudo” é ganhar uma nova oportunidade.
Enquanto aguardava a minha resposta em começar seu turno mais cedo, ela quis compartilhar um detalhe de sua história para que eu a entendesse melhor. O sorriso desapareceu por minutos ao me contar que havia enfrentado dois AVCs e um infarto nos últimos anos. Um lado do corpo esteve paralisado por muito tempo. “Eu conseguia me movimentar com a ajuda de uma bengala, mas um dia me roubaram ela”, disse Nadia acrescentando: “naquele dia, descobri que podia caminhar sozinha”.
Quem de nós não passou por uma situação semelhante? Não exatamente como Nadia, mas dependendo de uma “bengala” para nos levar adiante, seja no trabalho, em casa ou na sociedade. Quantas pessoas você conhece que vivem na sombra de outra porque não sabem andar sozinhas? Medo? Insegurança? Falta de vontade? Falta de conscientização? O que leva uma pessoa a viver assim, apoiando-se nos outros para seguir em frente?
“Quando a água bate no bumbum, você aprende a nadar”, dizia a minha mãe desde que eu me entendi por gente. E oh expressão mais certa! Foi aqui, longe de casa que descobri isso. Quando não tinha ninguém para fazer por mim muitas coisas que eu pensava que não era capaz de fazer eu mesma.
“Você não sabe do que é capaz até que você se vê obrigado a tentar!”. Essa era outra frase que eu costumava a ter junto a minha escrita na minha juventude, quando estava nos meus primeiros passos no jornal.
Assim como a história da bengala de Nadia, vemos ainda pessoas que se apoiam em outras como se elas fossem muletas. Este tipo de gente tem como intuito manter-nos por perto até enquanto eles precisam, ou seja, nossa função é a de uma “muleta emocional” deles. Nesse caso, é importante lembrar que nossa tarefa em ser amigo é uma coisa supervaliosa, mas não somos obrigados a estarmos disponíveis para este tipo de gente que recorre a nós para preencher o vazio emocional.
Não queira ser bengala ou muletas na vida de alguém, nem tampouco queira precisar desse tipo de apoio para seguir em frente. Seja você mesmo! Confie no seu potencial.
Uma pessoa forte e inteligente emocionalmente não precisa se apoiar em ninguém porque tem equilíbrio próprio e sabe que se cair, levantar-se-á sozinha com mais garra e mais determinação para chegar ao seu alvo.
Existe alguém na sua vida que se apoia em você ao ponto de lhe causar estresse ou ansiedade? Aplique os limites. Explique com diplomacia que é hora de mudar e que você estará por perto para ajudá-lo a levantar-se se em algum determinado momento vir a cair.
Amigos verdadeiros não passam a mão na cabeça e dizem: “não se preocupe, amanhã é outro dia”. Eles são aqueles tipos de pessoas que chutam o traseiro do amigo e lhe dizem: “Mexa-se! Amanhã pode não chegar!”
Avante! O mundo precisa de gente que encara os obstáculos sem medo e sem receios. Que caminha com passos firmes mesmo quando a jornada é incerta. Que busca soluções ao invés de chorar pelo problema e que ao invés de apoiar-se em alguém, junta as forças para juntos alçar voos mais altos.