O uso excessivo de telas por crianças e adolescentes é uma preocupação crescente entre pais, educadores e profissionais de saúde. A psicóloga Alessandra Soares alerta que a questão não se resume à simples retirada de dispositivos, mas à busca de alternativas de entretenimento e momentos de reflexão para essa geração.
“Falar sobre banir o celular ou telas vai muito além da simples ou complicada retirada, pois é necessário compreender que não é apenas retirar o celular, mas o que posso estar oferecendo para este adolescente ou criança como entretenimento. Isso não significa que devemos ocupar 24 horas nosso adolescente com atividades, pois ele precisa também navegar no ócio”, afirma Alessandra Soares. Segundo ela, o ócio é fundamental para o desenvolvimento, permitindo que as crianças e adolescentes reflitam sobre a vida e sua existência.
A exposição prolongada às telas traz diversos prejuízos, como a diminuição do QI, dificuldades sociais e emocionais, queda no rendimento escolar, transtornos alimentares, obesidade, ansiedade, depressão, procrastinação, falta de foco, desinteresse e insatisfação. No entanto, a solução não é simplesmente retirar os dispositivos. “Será que retirar o celular totalmente diminuirá os prejuízos?”, questiona Alessandra.
A psicóloga destaca que o cérebro humano amadurece entre 21 e 24 anos, e que os pais devem ensinar seus filhos a lidar com os desafios, incluindo a gestão do tempo de uso das telas. “Cedo ou tarde, independente da idade, é necessário a pessoa saber mensurar a quantidade do tempo que tem disponível no celular. Hoje não só adolescentes, mas adultos estão presos ao celular, por não conseguir ter o controle.”
Especialistas recomendam que crianças com menos de 2 anos não tenham contato com telas e que crianças abaixo de 6 anos usem dispositivos por no máximo 40 minutos por dia. Entretanto, mais importante que a quantidade de tempo é a conscientização sobre os prejuízos do uso excessivo. “Precisamos ajudar eles a pensarem em um mundo alternativo, visto que a geração deles é virtual.”

A realidade é alarmante: crianças de 2 anos passam quase três horas por dia em frente às telas, crianças de 6 anos, cerca de cinco horas, e adolescentes, mais de sete horas. Antes de completar 18 anos, esses jovens terão passado o equivalente a 30 anos letivos em frente às telas, ou 16 anos de trabalho em tempo integral, conforme dados do livro “A Fábrica de Cretinos Digitais” de Michael Desmurget.
Para enfrentar esse desafio, Alessandra Soares sugere que os pais mantenham um vínculo saudável com seus filhos, possibilitando que seus argumentos sejam respeitados. “Se você achar que ele usou mais que deveria, converse e faça combinados. Diminuir o excesso reduz prejuízo sim, mas quero lembrar que se seu adolescente está com excesso de celular, quando fores fazer a retirada combinada, fique atento na abstinência. Ele pode ficar com alteração no humor, irritabilidade, inquieto, pois seu cérebro está acostumado com a dopamina recebida pelo excesso de tela.”