quarta-feira, 15 DE janeiro DE 2025
Luiz LlantadaCrônica | Chegada a Porto Alegre

Crônica | Chegada a Porto Alegre

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Depois do episódio da “Vaca morta”, ocorrido em Caxias do Sul, que narrei na última crônica, fomos morar em Passo Fundo, por dois anos, donde saímos com destino a Porto Alegre em 1953. Eu tinha, então, nove anos. Meus dois irmãos homens já contavam doze e treze, respectivamente. Eles foram trabalhar no comércio e eu permaneci estudando, pois minha mãe não admitia que eu tralhasse fora antes de me formar no ensino primário o qual, naquele tempo, levava cinco anos.

Mas eu não me limitava só em estudar, pois minhas necessidades para os supérfluos, em especial, as matinés dos domingos, permaneciam. Ir ao cinema, para mim era uma questão de honra e a minha maior alegria. Diante disso, continuei no ramo de “ferro-velho”, juntando pelas ruas e terrenos baldios tudo o que pudesse se transformar em dinheiro. Agora, porém, eu tinha duas grandes vantagens: – Uma, a experiência, outra, que passei a trabalhar como autônomo, pois não precisava mais repartir os lucros com meus irmãos. Eu era o dono do meu próprio negócio. Eu mesmo programava meus roteiros e horários. Muitos escondidos de minha mãe.

Sendo a Capital gaúcha uma cidade cosmopolita, é evidente que novas oportunidades me haveriam de surgir. Assim, conheci a tal de “feira livre”, muito comum naquela época, pois não existiam supermercados como hoje. A feira consistia-se num conjunto de barracas de lonas, montadas uma vez por semana, numa certa rua de um bairro qualquer. Vendia-se de tudo em termos de alimentos. E tudo barato. As frutas e verduras eram sempre fresquinhas. As donas de casas adoravam.

A primeira vez que fui numa “feira livre” foi com minha mãe, levando meu carrinho de mão, para transportar suas compras. Na verdade, ela levou-me para ensinar-me. Noutros dias, ela apenas escrevia uma relação do que comprar e eu ia sozinho. Comprava e transportava. Mais uma vez, porém, uma estrela lá no Céu brilhou para mim. Notei que alguns meninos ficavam reunidos, com seus carrinhos de mão e pessoas vinham contratar-lhes para fazer fretes. Meus olhos se arregalaram e brilharam intensamente. Era a oportunidade de ampliar meus negócios.

Passei a ir bem cedo à feira. Pegava a lista de compras de minha mãe no dia anterior para o dia seguinte. Muitas vezes, eu lá chegava e ainda era escuro. Fazia as compras dela e voltava ligeiro para casa, correndo, para fazer os meus fretes. Não tinha calor, frio ou chuva que me impedisse. Muitas vezes, sob protestos de minha mãe, eu fugia para honrar meus compromissos, mas, é claro, sempre pensando nas balas, chocolates, sorvetes, gibis e nas matinés dos domingos. Isso tudo eu fiz até completar o quinto ano primário e a idade de doze anos, quando, então, partiria para o trabalho de menor no mercado formal. Mas isto é assunto para a próxima crônica.

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