Região
A vida de toda a população brasileira (e mesmo mundial) foi de uma forma ou outra afetada pelo coronavírus. Porém, poucos trabalhadores sentiram de maneira tão intensa o poder da doença batizada de Covid-19, quanto os profissionais da saúde.
Neste mês em que a pandemia completou um ano, quatro enfermeiras falaram sobre os sustos, medos e mesmo alegrias em meio a dor.
Cássia Machado é coordenadora da Vigilância Epidemiológica de Balneário Gaivota e lembra da primeira pessoa que apareceu no município com suspeita de contaminação pelo corona, em março de 2020. Era uma mulher com sintomas de gripe e febre. Ela tinha chegado de um cruzeiro e soube que amigos estavam infectados. “No início era tudo muito confuso, não tínhamos orientação concreta nem para o que era uma suspeita. Fomos aprendendo aos poucos”, recorda.
Coordenadora de Enfermagem do Hospital Dom Joaquim, Luana da Rosa Campos, diz que o HDJ não possuía estrutura para tratar este tipo de doença e teve que dividir espaços, como a ala clínica e a emergência. “O que mais me chama a atenção nesta doença é que os pacientes às vezes chegam bem e rapidamente pioram. No começo tivemos que aprender na prática, hoje já temos conhecimento sobre como manejar esse paciente”.
Outro aspecto que marcou muito a enfermeira do Dom Joaquim foi a falta de sepultamento. Do hospital, os corpos saem direto para o enterro, aumentando o desespero das famílias.
Choro e emoção
Quando o coronavírus se instalou na região, a enfermeira Aline Inácio, coordenadora da Atenção Básica da Secretaria de Saúde de Sombrio, analisa que ainda era possível acompanhar o isolamento dos infectados, fazendo com que esta medida fosse mais efetiva. Depois os números cresceram demais e essa função ficou mais difícil. “Foi bastante desafiador, e nos postos de saúde, nos primeiros dias, tinha gente que queria se consultar de qualquer jeito”. Em um sábado em que o posto de saúde abriu para fazer uma ação de combate ao vírus, Aline ficou na frente do prédio dispensando quem aparecia somente por curiosidade. Um carro estacionou e ela perguntou às duas mulheres que estavam nele qual era o motivo de irem ao posto. A mais velha abriu a janela do automóvel e entregou um bolo que tinha feito para a equipe da Saúde. Ao contar a história, a enfermeira chora.
Amanda de Jesus entrou na profissão em meio à tormenta. Em março do ano passado ela ainda fazia estágio, concluindo o curso de Enfermagem. Um dia, os alunos foram comunicados que todas as atividades estavam suspensas. A formatura foi feita e em seguida Amanda começou a trabalhar em uma Unidade de Saúde de Santa Rosa do Sul. É a sua pequena cidade natal, e muita gente que fica mal ou falece, ela conhece pessoalmente. Um cenário triste para alguém tão jovem.
As enfermeiras se emocionam ao falar deste ano de pandemia. Cássia perdeu um tio com Covid. “Ele foi o segundo óbito em Sombrio”, fala aos prantos. Além disso, a primeira morte no Extremo Sul foi no seu município, Balneário Gaivota.
Luana afirma que costuma se informar sobre os pacientes quando está em casa, de folga. “A gente dá banho neles, cuida de toda forma, cada paciente é o nosso paciente, e é muito ruim quando um vai a óbito. Alguns nos pedem ajuda e a gente faz o que pode”, relata.