A reportagem do jornal Correio do Sul conversou na tarde desta quinta-feira, dia 27, com Jean Assunção, o enfermeiro e estudante de Medicina, envolvido no caso da não aplicação da vacina contra a Covid, que ocorreu em Araranguá, na segunda-feira, dia 24. Além de Jean, seu advogado, Renan Cioff de Santana, participou da entrevista.

Na noite de segunda-feira, um vídeo viralizou na internet. No vídeo, pode-se perceber que Jean, ao aplicar a vacina em uma idosa, que estava agitada, não empurra o êmbolo, não injetando o líquido. O vídeo causou comoção nas redes sociais, gerando manifestações formais da Prefeitura de Araranguá e da UFSC, Campus Araranguá, onde Jean cursa Medicina.
Jean recebeu ataques e mensagens positivas
Jean relatou que ficou sabendo do erro só quando o vídeo se espalhou pelas redes sociais e chegou até ele na noite de segunda-feira. No momento da vacinação, ele sabia que estava sendo filmado, algo que a maioria das pessoas faz durante a imunização. “O pessoal começou a me marcar no Instagram e me mandar pelo WhatsApp, comecei a ler os comentários e teorias que começaram a se formar a meu respeito, e resolvi sair das redes sociais. Excluí até para não me contaminar com essa toxicidade toda”, contou.
Ele diz que entende a comoção, mas que os impactos dos comentários e ataques no seu psicológico foram arrasadores, e por isso, procurou ajuda psiquiátrica. “Passei a tomar medicação. A gente fica em transe, em choque, um turbilhão de sentimentos”, continua.
Jean ainda disse que recebeu, além de ataques, mensagens positivas e de apoio, principalmente de pessoas que já o conhecem há muito tempo. “As pessoas que sabem da minha carreira profissional sabem que não teria porquê eu fazer uma coisa dessas, estando de férias, sair de casa para ir lá, me voluntariar, e fazer uma coisa dessas”, pondera.
Encontro da dose da vacina traz alívio
O enfermeiro comentou também sobre a abertura da caixa de descarte de vacinas, na tarde de quarta-feira, dia 26, onde uma única dose foi encontrada, dentro de uma seringa. “Eu sabia que dali a seringa seria descartada e por isso era questão de tempo que eles abrissem a caixa, fizessem a perícia e a verdade viria à tona. Só que agora, a minha versão tem respaldo legal”, disse.
O advogado de Jean pontuou que o objetivo era juntar provas para corroborar a versão do enfermeiro, de que ele não havia agido intencionalmente. Por isso a abertura da caixa de descarte era tão importante. “Era muito importante, principalmente com tudo o que estava sendo falado. A partir do momento em que foi encontrada essa seringa, com essa quantidade, que é justamente uma dose da vacina, essa circunstância vai ao encontro daquilo que o Jean estava dizendo, então isso nos tranquilizou”, declarou o defensor.
Cioff ainda esclareceu que para a esfera jurídica, não há condutas relacionadas a desvios de vacinas, por exemplo, que sejam culposas, ou seja, quem pratica esses atos sempre “quer o resultado, quer desviar”, define o advogado. Ele acrescenta que nestes casos, um erro de imperícia não configura, em si, um crime.
O advogado também afirmou que as pessoas que publicaram mensagens ofensivas contra Jean e seus familiares, bem como fizeram áudios difamando o enfermeiro, serão, “no momento oportuno”, responsabilizadas.
Idosa foi vacinada no dia seguinte
O médico Henrique Besser, secretário municipal de Saúde de Araranguá, também deu entrevista para a reportagem na tarde desta quinta-feira e começou dizendo que a pasta ficou surpresa com a situação, já que Jean é um voluntário recorrente na Secretaria. “A surpresa foi bastante grande quando aquele vídeo demonstrou o fato. Na mesma noite, eu me vi obrigado a fazer um B.O. e no dia seguinte prestei depoimento”, relatou. Um perito do IGP buscou a caixa de descarte com as seringas e a polícia assumiu o caso.

De acordo com o secretário, o protocolo na vacinação é descartar a seringa junto com a agulha, em uma embalagem específica e ao final do dia, a caixa é lacrada e descartada para a coleta de lixo hospitalar contaminado.
Besser garantiu que a equipe de vacinação é de profissionais formados e acredita que este tenha sido um caso isolado. “O quadro só é completado por estagiários e voluntários, que passam por uma avaliação, há o preenchimento de um formulário. Não é uma coisa aleatória e perdida. Tanto é que a situação surgiu de forma única, espontânea, e que de pronto foi solucionada, a caixa guardada e feita a investigação. Entendo que a população pode ficar tranquila”, ponderou.
Sobre os voluntários na campanha, o secretário diz que apenas profissionais de saúde trabalham na aplicação das doses, enquanto que pessoas sem formação ou em processo acadêmico podem desempenhar outras funções.
Besser concluiu que a vacinação continua nos mesmos moldes e respeitando o que é determinado pelos órgãos públicos de saúde. Ele ainda informou que a idosa foi devidamente vacinada, no dia seguinte (terça-feira, dia 25), em sua própria casa, por uma equipe de vacinação.
Investigação policial não encontra anormalidades
As investigações do caso continuam. Após colher o depoimento dos envolvidos, a Polícia Civil teve acesso a câmeras de segurança do local de vacinação. “Analisando as imagens, nada de anormal foi visto, só a movimentação de carros”, disse o delegado Thiago Reis (foto), coordenador da investigação.
Sobre o interrogatório de Jean, o delegado diz que a versão dele bate com o que foi dito por outras testemunhas. “Conversamos sobre a dinâmica da vacinação, do comportamento dele durante toda a tarde, e muitas coisas são corroboradas pelo depoimento das testemunhas”, diz.