No dia 6 de março, quando entrar na igreja para ser ordenado diácono, Rafael Borges Peres Martins estará concluindo um processo que foi longo, doloroso e teve início na sua adolescência. Muita gente não acreditava que Rafael conseguisse se tornar padre.
Aos 15 anos de idade, o rapaz que morava com os pais no bairro São Luís, em Sombrio, sofreu um acidente vascular cerebral isquêmico, e ficou com graves sequelas. Passou dois anos em uma cadeira de rodas e durante muito tempo teve um lado do corpo paralisado. Nada fácil para um adolescente que gostava de jogar futebol e fazer as atividades comuns à juventude.
Durante o processo de recuperação, Rafael algumas vezes se sentiu amargurado e triste, mas estes sentimentos duravam pouco. “Ou eu me acomodava, ou lutava. Resolvi lutar e aprendi que os nossos limites somos nós que botamos”, diz.
Quando conseguiu se livrar da cadeira e passou a usar muletas, o adolescente caminhava com elas até o centro da cidade. Às vezes caía no caminho e tinha que ser resgatado pela família. “Nesse período, eu não sorria, pois, um lado do rosto estava sem movimentos. A gente não podia pagar muitos tratamentos e profissionais para a Fisioterapia. Então eu botava CDs de piadas para ouvir e ia rindo como dava, forçando, e deu resultado”, conta.
Vocação religiosa
Quando criança, Rafael já havia dito a uma vizinha que seria padre, depois cresceu um pouco mais e esqueceu o assunto. Mais recuperado do AVC, namorou, trabalhou e estudou, até que veio um vazio no peito que nada preenchia. Passava em frente a Igreja Matriz e se sentia atraído por ela. Um dia procurou o padre e falou o que sentia, sendo convidado a conhecer o seminário de Nova Veneza como um teste. “Lá me senti pleno, com o coração em paz, era o que eu queria para a minha vida”, detalha.
Rafael ainda tinha problemas na fala e paralisia em um braço, resquícios do AVC. Com isso, ouviu algumas vezes que dificilmente seria religioso. Acontece que difícil não é uma palavra que assusta Rafael. “Para mim AVC significa A Vida Continua, e segui em frente sem me abater”. Muita ajuda também veio da igreja, inclusive para que melhorasse sua dicção, que hoje é perfeita. Ao invés de se lamentar pelo acidente vascular que o impediu de ser um jovem como os outros, o homem que hoje está com 30 anos de idade, acredita que será um vigário melhor pelo sofrimento que passou. “Talvez eu precisasse passar por isso, posso entender melhor quem sofre”, conclui.
A ordenação diaconal acontece no dia 6 de março, no santuário Sagrado Coração Misericordioso de Jesus em Içara, para o sombriense Rafael e outros quatro seminaristas: Israel Maia Teixeira, Luan Zanoni, Maurício Borges Feliciano e Tiago Mota da Silva.