O tenente-coronel do Exército Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, declarou nesta segunda-feira (9) ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o ex-presidente solicitou o monitoramento da rotina do ministro Alexandre de Moraes, relator das ações penais ligadas aos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. O objetivo seria verificar supostos encontros entre Moraes e o então vice-presidente Hamilton Mourão, segundo o militar.
Cid foi o primeiro réu do chamado “Núcleo 1” da suposta trama golpista a ser interrogado por Moraes e prestou o depoimento na condição de delator. Segundo ele, Bolsonaro frequentemente requisitava esse tipo de acompanhamento em relação a adversários políticos, utilizando informações públicas, como agendas e deslocamentos fornecidos por forças militares.
A ordem, no caso de Moraes, teria sido repassada ao coronel do Exército Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro e também réu no processo. “Era comum o presidente pedir esse tipo de verificação. Não se tratava de análise de inteligência, mas de confirmar encontros por meio de informações acessíveis”, afirmou Mauro Cid durante o depoimento.
Além disso, Cid confirmou que participou de pelo menos duas reuniões com Bolsonaro, em 2022, nas quais foi apresentada ao então presidente uma minuta de decreto que previa medidas como estado de sítio e a prisão de ministros do STF e de outras autoridades. O militar declarou que o próprio Bolsonaro leu o documento e chegou a sugerir alterações.
O texto, segundo Cid, era dividido em duas partes: uma primeira com justificativas robustas sobre supostas interferências do Judiciário no governo e nas eleições, e uma segunda parte com base jurídica para decretar estado de defesa, estado de sítio e outras ações inconstitucionais.
Interrogatórios seguem até sexta-feira
O depoimento de Mauro Cid marca o início de uma série de oitivas comandadas por Alexandre de Moraes até sexta-feira, dia 13. Estão sendo interrogados réus apontados como integrantes do núcleo central da tentativa de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após o resultado das eleições de 2022.
Confira a ordem dos depoimentos:
Mauro Cid – ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator;
Alexandre Ramagem – ex-diretor da Abin;
Almir Garnier – ex-comandante da Marinha;
Anderson Torres – ex-ministro da Justiça;
Augusto Heleno – ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
Jair Bolsonaro – ex-presidente da República;
Paulo Sérgio Nogueira – ex-ministro da Defesa;
Walter Braga Netto – general da reserva e ex-ministro da Casa Civil.
As audiências fazem parte da investigação que apura a articulação de uma tentativa de golpe de Estado e a construção de uma narrativa de fraude eleitoral, com o envolvimento de autoridades civis e militares do governo Bolsonaro.